Flexibilidade e enrijecimento

Engessar, enrijecer é perder flexibilidade. Movimentos diminuídos, posicionamentos rígidos, assim como músculos enrijecidos (endurecidos), é o que acontece quando processos saturantes não são questionados. A imobilidade torna sem flexibilidade o que, por definição, existe apenas enquanto movimento, enquanto possibilidade de relação. Indivíduos compromissados, que se apegam rigidamente a pontos de vista, que não admitem outras visões além das próprias, que se sentem seguros e garantidos por a priori, assim como os tolerantes e bem intencionados, mas incapazes de perceber as inúmeras variáveis das situações à sua volta, bem exemplificam o processo de enrijecimento, de autorreferenciamento.

Estar disponível, aceitar limites é flexibilidade no relacionamento com o outro e com o mundo. Poder entregar-se às paixões ou delas fugir é um exemplo de não endurecimento, de não compromisso com regra e desejo. É muito difícil, intolerável até, viver esmagado, bitolado por regras e desejos, obrigações responsáveis por estabelecer o caminho para o pódio, para a celebração, tanto quanto é esvaziador segurar as ondas, a correnteza fluida que permitirá salvar a sobrevivência. A constância da participação, a constância dos questionamentos, é o que possibilita dinâmica, o que configura flexibilidade, disponibilidade, transformando atrito em antíteses inovadoras, criadoras de ampliação e diversificação motivacionais.

Propiciar continuidade do movimento é não criar entraves, freios que impedem o livre fluir das contradições. A dialética processada, a constante existência de teses, antíteses e sínteses a tudo o que acontece é o que permite o novo, a superação, a descoberta, o desamarrar de nós posicionantes e adaptadores, mas que também tragam (engolem) a vitalidade. Participação questionada é sempre libertadora.




“A Distinção - Crítica Social do Julgamento” de Pierre Bourdieu



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