Bricolage
Bricolage é a improvisação, o trabalho pouco cuidadoso onde uma série de peças ou situações são arregimentadas, organizadas em função do que se quer produzir improvisadamente, adaptando-se aos materiais e circunstâncias. Este sentido de improvisação, transformadora e realizadora de necessidades, conferiu à bricolage, acepção de criatividade, quer como sinônimo de improvisação criadora, quer como responsável por soluções artísticas.
Aproveitar o que pode ser improvisado é gerar substituições adequadas e também anômalas, consequentemente inadequadas. A vida em grupo, a estrutura frágil de algumas comunidades que são polarizadas em função da realização dos objetivos que a formaram - geralmente contingentes - cria verdadeiros híbridos de propósitos.
Existem comunidades formadas para a prática de crimes, preocupadas em estabelecer paz e tranquilidade entre seus constituintes e isto equivale a uma reciclagem para satisfazer necessidades: para manter as ações criminosas precisa-se de paz, concordância e entendimento entre seus membros.
Sobrevivência e proteção em regiões pobres também se consegue pela reciclagem: telhados de zinco, palhas de coqueiro, reutilização de latas com a função de copos para beber água.
Em outras esferas, comunidades científicas e artísticas por exemplo, se realiza bricolage, improvisação, através do copiar e colar, através de plágios e sampleados artísticos que disfarçam o que foi apoderado para uso improvisado. As palavras viram coisas, ganham personalidade e são usadas como fetiches indicativos do que se quer improvisar.
A falta de conceitos, a transposição aleatória para contextos diferentes do que foi gerado, cria plágios dissonantes, assim adotados pela ambiguidade característica da funcionabilidade não discriminatória. Atualmente, o “copiar-colar” é um reino de bricolage; transpostos ganham significados aderentes a seus estruturantes e consequentemente não mais expressam o que os constituiram, pois a relação estruturante mudou.
Copiar, plagiar é equivalente a constuir cidades de tetos zincados, enferrujados, caindo aos pedaços, como uma forma de proteção. Quebrando a estética, a harmonia e criando novos parâmetros, sua continuidade muda o que se entende como cidade. O improviso, ao solucionar, amplia as possibilidades de solução, mas compromete, restringe as questões, restringe as perguntas ao nível da solução encontrada, consequentemente, limitando suas relações configuradoras aos resultados buscados.
Se no cotidiano isto é nitidamente empobrecedor, imagine-se o que não faz a improvisação construída pelo plágio, pela cópia na área conceitual, científica, literária e artística!
- O Pensamento Selvagem, de Claude Lévi-Strauss
verafelicidade@gmail.com
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