Postagens

Mostrando postagens de março, 2016

Artefatos

Transformado em objeto, em coisa alienada em função de demandas, medos e desejos de terceiros (principalmente os estruturantes relacionais, via de regra os pais) o indivíduo é transformado em receptáculo de valores, regras e ensinamentos de como bem sobreviver. Esta caixa (de ressonância) recebe muitas coletas e depósitos, mas, a necessidade de matéria prima para compor representatividade e não fazer com que os outros fujam diante dos massacres sobre si estampados, obriga a buscar máscaras, véus, coberturas que disfarcem. Apesar de massacrados pelo processo de coisificação, desumanizados e alienados de si mesmos (não há questionamento), onde só a necessidade satisfeita significa prazer e tranquilidade, o ser humano permanece uma possibilidade, uma abertura para transformar. Sua estrutura humana enseja isto, mas, sem dados relacionais, seu posicionamento situacional sobrevivente cria limite sinalizador do que vai permitir ganhos, do que vai permitir se dar bem ou não, ser aceito ou

Quando a gratidão é avidez

Não querer abrir mão do que conseguiu, seja no âmbito profissional, seja no afetivo é sempre explicitado por esforço e dedicação, frequentemente traduzido por gratidão, por agradecimento pelo que conseguiu e ou por ser amado, por ser considerado e querido. Esta aparente submissão, entrega e disponibilidade, nada mais é que a expectativa de alívio diante do que não se quer perder. Neste contexto, ser grato é saber que tudo está mantido, nada se perdeu; a paz, a segurança e conforto continuam. A família que reconhece, os deuses que ajudam, as instituições que possibilitam, todos estes apoios submetem e suscitam atitudes gratas, geram agradecimento. Sentir-se grato é, assim, sempre um depois, resulta de empenhos, atitudes e desempenhos reconhecidos e gratificados. Estes processos em tempos diferentes mostram interseções que precisam ser consideradas. Buscar sucesso profissional, querer manter satisfação afetiva pela continuidade de situações já ultrapassadas e inseridas em outros cont

Homem e animal

Somos iguais aos animais enquanto organismo regulado por catabolismo e anabolismo. As necessidades sinalizam, em maior ou menor escala, orientando e determinando a sobrevivência animal e nós, humanos, somos os mais desenvolvidos animais da escala biológica. O ser humano deixa de ser apenas um animal quando transcende a sua estrutura imanentemente biológica e através da percepção de si, do outro e do mundo, estabelece relacionamentos que realizam suas possibilidades. É através do prolongamento destes processos perceptivos relacionais que ele pensa, cogita, utiliza, respeita, admira ou esmaga os que estão diante dele, ou ao seu lado. Wittgenstein dizia: “a vida é um problema intelectual e um dever moral” , mais concisamente, ele falava das apreensões cognitivas e morais, falava da ética do humano. Sobreviver, levando às últimas consequências, aniquila. As guerras, as drogas, as torturas e imolações em função de conveniências, de manutenção e realização dos próprios desejos, m

Dinheiro pode ser uma droga viciante

Quando se acumula qualquer coisa, principalmente dinheiro, se está acumulando o que pode significar garantia, tranquilidade, prazer ou alívio da ansiedade. Acumular dinheiro ganho pelo trabalho com o intuito de  enfrentar quaisquer vicissitudes é uma maneira de eternizar ganhos, de enfrentar perdas. Acumular dinheiro ganho ao acaso - roubos, corrupção, tráfico de ilícitos, enfim, o dinheiro que não é fruto de um trabalho legalmente sancionado - é uma maneira de estocar equivalentes de estupefacientes, de drogas que restauram imagens de poder, e que também aliviam tensão, ansiedade e desespero. O dinheiro usurpado é como uma droga sempre necessária, mas nada valorizada. Precisa-se dele, ele precisa ser usado, mas, destruído desperdiçada e avidamente. Estes  comportamentos geraram rótulos, clichês como: “foi bebido pela bebida, cheirado pela cocaina” . A situação chega a tal dissipação, que apenas resta a droga, o vício destrói o indivíduo. A falta de limite caracteriza o vício. Ví

Destruidores

O indivíduo realiza destruição utilizando tudo que está à sua volta. A não aceitação estabelece metas e em função delas se vive. Não existe o presente, não existe o limite. O limite é vivenciado como um detalhe, um trampolim. Em alguns casos a família é manipulada para satisfazer desejos e necessidades. Existem os que lançam mão dos próprios filhos para realizar anseios de ganância e realização do que consideram prazer sexual, como na pedofilia por exemplo. Existe a usurpação dos direitos dos parentes por meio da apropriação de seus bens e pertences. Em outras situações, comunidades, ordens religiosas, instituições de ensino são transformadas em tribunas, púlpitos à partir dos quais as ambições e propósitos se realizam. Tudo é destruído e onde tal pessoa põe o pé nada frutifica, tudo é canalizado para seus desejos de afirmação e ganhos. Escolas, Igrejas são destruídas ao abrigarem tais indivíduos, pois tudo tem que convergir para a realização de seus planos. Ditadores e muitos go