Homem e animal
Somos iguais aos animais enquanto organismo regulado por catabolismo e anabolismo. As necessidades sinalizam, em maior ou menor escala, orientando e determinando a sobrevivência animal e nós, humanos, somos os mais desenvolvidos animais da escala biológica.
O ser humano deixa de ser apenas um animal quando transcende a sua estrutura imanentemente biológica e através da percepção de si, do outro e do mundo, estabelece relacionamentos que realizam suas possibilidades. É através do prolongamento destes processos perceptivos relacionais que ele pensa, cogita, utiliza, respeita, admira ou esmaga os que estão diante dele, ou ao seu lado.
O ser humano deixa de ser apenas um animal quando transcende a sua estrutura imanentemente biológica e através da percepção de si, do outro e do mundo, estabelece relacionamentos que realizam suas possibilidades. É através do prolongamento destes processos perceptivos relacionais que ele pensa, cogita, utiliza, respeita, admira ou esmaga os que estão diante dele, ou ao seu lado.
Wittgenstein dizia: “a vida é um problema intelectual e um dever moral”, mais concisamente, ele falava das apreensões cognitivas e morais, falava da ética do humano.
Sobreviver, levando às últimas consequências, aniquila. As guerras, as drogas, as torturas e imolações em função de conveniências, de manutenção e realização dos próprios desejos, mostram esta destruição.
O dever moral para com o outro e para consigo é a norma que só o humano, quando transcende suas necessidades de sobrevivência, pode realizar, atingindo assim dimensão de beleza, de integração com o que está à sua volta, com o outro, consigo mesmo. É o milagre do amor que tudo supera. É a aceitação que transforma limites. É o questionamento que permite mudanças.
Viver é questionar, é se perceber e perceber o outro, realizando a dimensão ética e os deveres morais, não mais percebidos como deveres, como aderências, mas sim como constituintes de si, ao ponto de ser possível dizer: existem situações que depois de vivenciadas é melhor não sobreviver a elas.
Quando existe disponibilidade, as situações são vivenciadas com autenticidade, com espontaneidade, mesmo que signifiquem vivências trágicas ou interrupção da vida, mas, se a atitude for de sobreviver custe o que custar, a posterior percepção do que passou leva ao desânimo, depressão e às vezes ao suicídio. Sobrevivente do holocausto, Primo Levi, por exemplo, suicidou-se, no entanto, nos deixou relatos e depoimentos de sua grande humanidade e transcendência, tanto quanto de horrores e torturas às quais foi submetido. O ser humano pode ser submetido, mas às vezes resta um indivisível que não é destruído.
A ética, o dever moral, inicia-se na disponibilidade e não em comportamentos como ganhar a qualquer preço, salvar-se não importa como.
verafelicidade@gmail.com
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