Caos e desorganização



A desorganização solapa a continuidade dos processos. Ela é tão desestruturadora que enquanto se realiza, ao mesmo tempo, cria nova organização equivalente a uma organização desestruturada. Esse paradoxo fica inteligível se imaginarmos sistemas de referência, isto é, o organizado em relação a A é desorganizado em relação a B. Pensando no câncer, por exemplo, como desorganização de células, organizando-se de outra maneira, sua função é o crescimento anômalo.

Na sobrevivência, na submissão dos indivíduos que não se aceitam, que rastejam para serem amados e reconhecidos, isso também se observa. Organizar-se como vítima, estabelecer-se como humilhado é desorganizar iniciativas em função de sobreviver, de conseguir o que precisa não importa como. 

Vida é luta, é contradição e também é pacificação, nadificação quando se valoriza mentira e conveniência. Assistir a morte, as violências sofridas pelo outro e nada fazer é uma maneira de atingir o máximo de conveniências e vantagens: “antes ele do que eu” é o lema dessas pessoas. Tirar vantagem em tudo é o excesso de falta que traz lucro, permite vender as migalhas pelo preço do quilo, é a mais-valia, o oportunismo encontrado em todos os lugares nos quais o deslocamento de contradições gerou desorganização, medo e caos.

Esconder o estupro da filha, tampar as evidências do que foi sofrido pelo filho, maquiar as próprias dificuldades são artifícios para sobreviver. A sobrevivência sempre exige mais, desde que resulta de deslocamentos das condições vigentes, como por exemplo, não é pai, é estuprador, mesmo que a filha ou qualquer outra pessoa nada comente. Equivale ao “rouba mas faz” dos políticos, ou ainda, “todos fazem, por que ser exceção?”.

A grande questão é que a sequência, na desorganização, cria organização caótica e destruidora da vida humanizada. Chegaremos a buscar proteína no ser humano? A sua permissão será uma forma de organização das desorganizações nutricionais?



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