Coragem como tábua de salvação
Estar perdido, enfraquecido, angustiado por não aceitar limites, por se sentir incapaz e impotente cria angústia, medo e ansiedade, atrapalha e impede realização de desejos que permitiriam atingir bem-estar e segurança. Não vive o presente, não se relaciona com o que tem, só espera o que precisa que aconteça - do príncipe encantado à torcida de que tudo vai se resolver, passando pela cura milagrosa de seus males, de suas doenças - e assim fica cada vez mais manietado pela incapacidade, sem perceber o que está diante de si.
Após muito desespero, o indivíduo descobre, por exemplo, que se tiver dinheiro, compra tudo que pode comprar. Pensa que tem que transformar sua fraqueza em força, tem que ter coragem e conseguir realizar o que deseja. Acontece que essa atitude significa a manutenção de sonhos e, ainda, de não aceitações, em outras palavras, de tudo que impede realização, de tudo que faz escorregar para as dimensões sonhadoras das expectativas e desejos.
Só há mudança quando nos dedicamos ao que queremos mudar. Aceitando a própria incapacidade é possível transformá-la. Passes de mágica nada resolvem, são como quimeras, bolhas de sabão sem consistência. O faz de conta tranquiliza provisoriamente, mas consistentemente cria descontentamento, desestrutura, faz com que cada vez mais o indivíduo negue sua realidade, seu contexto, além de transformar os outros em objetos para ajuda, em grades de proteção etc.
Aos poucos, os que usam a coragem como maneira de negar os problemas, que só trabalham com vencer ou vencer, são os que reduzem os outros e o que os circunda em aridez necessária para seu caminho e aí, cada vez mais seguem perdendo qualquer sentido de vida e de propósitos. São seres enrodilhados, enquistados em suas angústias, depressões e medo, e isso é o que resulta do exercício dessa coragem.
Essa invenção feita de angústia, medo e fantasia, leva apenas ao desespero, pois de repente percebe que a coragem - sua tábua de salvação - é usada em planícies áridas, em desertos onde não flutua e de nada serve, nada salva.
Essa invenção feita de angústia, medo e fantasia, leva apenas ao desespero, pois de repente percebe que a coragem - sua tábua de salvação - é usada em planícies áridas, em desertos onde não flutua e de nada serve, nada salva.
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