“Qualquer coisa é melhor que nada”
“Qualquer coisa é melhor que nada”. Essa é a frase e o pensamento constante de todo mendigo quando aceita sua condição de mendicante.
Equivalentes desse estado de mendicância e vazio encontra-se também em certos indivíduos. Outro dia li o “Instrumental”, de James Rhodes, que em seus relatos de vivência dizia que: “ser rejeitado era melhor do que nem ter a chance de ser rejeitado”.
Significa algo ser alvo de olhar, de esbarrão, ser uma possibilidade implícita de qualquer coisa mesmo rejeitada. Ser algo é ocupar um lugar, é ter massa e densidade. O esvaziamento das vivências cria buracos negros que implodem a individualidade.
Passar como se não existisse, ser não significante, em branco e desvitalizado cria dúvidas, impede encontros e constatações. Não cria contradições, não determina, e ainda, como o mesmo escritor dizia: “só dormindo, podia sonhar”, tudo lhe era negado, pois o outro existia apenas sob a forma de alguém que lhe dava injeção, administrava faxinas e impedia desorganização. O outro era a régua mantenedora de posicionamento.
Entregue a si mesmo, sendo um vazio esburacado, um vazio esvaziado, o indivíduo se sente além de tudo, e então qualquer coisa que o pegue, que nele esbarre, que o massacre é melhor que não acontecer.
Nas instituições psiquiátricas, nas prisões, em certas situações hospitalares e até mesmo escolares, enfim, nos confinamentos do corpo ou do psicológico (estado de submissão ao outro), essas vivências e percepções são frequentes. Estar com alguém ou estar alguém diante de si mesmo é fundamental para impedir a nadificação, a ausência total de possibilidades humanizadoras. Isso explica também certos relacionamentos destruidores que são vivenciados como aceitáveis e significativos: desde o abuso, incesto consentido, até as “pancadas” que deixam marca e dor. A destruição do humano é feita por diversos caminhos.
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