Satisfação e apego


 

Toda vez que necessidades ou vontades são satisfeitas causam prazer e assim criam-se apegos, diziam os antigos yogues. Nas suas afirmações eles geram valores e dizem que quando esse apego se refere ao amor dos amigos, do cônjuge ou dos filhos, ele não é prejudicial, é afeição, é compaixão e se refere mais a situações mentais que físicas dos indivíduos com eles próprios, diferente do apego ao que sacia as necessidades individuais.

Esse dualismo valorativo entre físico e mental, entre necessidade biológica e "preferências mentais" individuais pode ser abolido caso pensemos na necessidade como denominador comum de ambos apegos: a necessidade do que causa prazer (água, sexo, alimento) ou a necessidade do outro (apoio, carinho, participação). Qualquer situação configurada e traduzida como necessária é alienante, desde que só a partir da mesma, da satisfação da necessidade, é que se vai configurar o bem-estar, o equilíbrio, a homeostase, o prazer.

Quando o que nos cerca é percebido como necessário, prazeroso e agradável, ele é, por essa percepção, transformado em objeto que nos satisfaz, aconchega, alegra ou amedronta. Apenas quando o outro é percebido como outro, independente de sua ação ou funcionalidade, é que ele se estrutura como individualidade. 

O outro que serve, que completa, que é bom e fundamental, é, por esse destacar de ação atributiva, transformado em objeto de prazer. Utilizar o outro é uma maneira de negá-lo como tal. É o apego que destrói desde quando mata o desejo ao satisfazer a necessidade, e mesmo quando o entroniza como ídolo fundamental. Os exemplos diários da supermãe, do superpai, do amigo perfeito são comprometedores e destruidores de suas individualidades e possibilidades. Ficar restrito, encarcerado aos padrões, mesmo os considerados padrões maravilhosos, é neutralizador de individualidade, destruidor de possibilidade.

Prazer e necessidade são sempre contingentes, e assim circunstancializados criam ramificações tais como apegos sempre sedativos e justificadores.

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