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Mostrando postagens de 2025

Visibilidade e agilidade

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      A sociedade está mudando com a informatização, as big techs, a inteligência artificial e as redes, enfim, com o aumento da conectividade tudo se processa à velocidade da luz. Não se busca mais construir uma profissão, procurar oportunidades como construção de carreira, o tijolo a tijolo está superado. Estar conectado, estar em rede é a catapulta para o sucesso e realização. É a visibilidade. É o equivalente do velho ditado: “a pessoa certa na hora certa, no lugar certo”. Estar visível só é possível se estiver conectado. Existir em rede é estar em condição de açambarcar tudo que ocorre, que significa e que se quer. Essa agilidade define presença, sucesso e ação. Desde os simples reels às lives e podcasts , o mundo está à mão ou sob os pés.   O que se quer de tudo isso? Geralmente sucesso e dinheiro. Essa busca específica evidencia a ambição, a meta, a ansiedade e desespero que caracterizam a procura do “lugar ao sol”. Hoje, atingir esse lugar é muito m...

Sincronia

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      Sincronizar é coincidir. A sincronia pode ser espontânea ou buscada. É um processo de identificação no qual escolhas são selecionadas para composição e finalização de eventos que se busca sincronizar, criando, inclusive, critérios para que isso ocorra.   No cotidiano, nas vivências afetivas, é comum querer, ou esperar a alma gêmea. Nesse sentido, sincronizar é muito valorizado e considerado. É como se outra realidade, ou outro mundo enviassem aprovação, mensagens que sinalizam acertos, adequação, sincronização com o que acontece.   Estar no mesmo tempo (essa é a etimologia de sincronia, palavra de origem grega) estar junto, agir de acordo, é encontro e também exatidão que funciona como se fosse um aplanador de arestas. A busca do semelhante, do igual, sempre norteou a escolha afetiva, e daí também surgiram os fundamentos de muitos preconceitos. Buscar o igual exclui o diferente. Entender o que é igual, o que é diferente envolve tantas contrad...

Piedade

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      Atitudes piedosas são raras atualmente, pois para exercer piedade é necessária a percepção do outro enquanto outro. Na luta cotidiana é praticamente impossível encontrar olhares ou atitudes piedosas. Aceitar a limitação alheia, mesmo que ela implique em prejuízos e danos, abrir mão de revidar e não ter raiva e, ainda, não querer vingança é o que permite ser piedoso. Aceitar a inveja e a agressão sofrida, como detalhe expresso por atitudes autorreferenciadas e caóticas possibilita exercer e sentir piedade. Para ser piedoso não é preciso estar no lugar do outro, é fundamental que se esteja no próprio lugar, com os pés no chão, sem medo e apreendendo as contradições humanas. Por isso, ser piedoso requer transcendência de dualidades, principalmente da percepção do outro como o diferente e estranho.     📕 ✔ Meus livros mais recentes - "Emparedados pelo vazio - Bem-estar e mal-estar contemporâneos" , Vera Felicidade de Almeida Campos, Editora Labrador,...

Freios, desvios e capotagens – limites a transformar

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    É fundamental a transposição de limites na velhice, na doença e quando falta recursos para sobreviver (pobreza crônica). Nessas situações o ser humano é quase impedido de desenvolver suas possibilidades relacionais, mesmo as de sobrevivência.   Envelhecer se caracteriza pela diminuição da própria funcionalidade, pela perda da visão e da audição, principalmente. É um comprometimento que atinge as possibilidades perceptivas, e sabemos que conhecer é perceber pelos sentidos. É a percepção que estabelece as possibilidades dos processos relacionais. Problemas motores e outros não são tão comprometedores do processo perceptivo, mas também precisam ser enfrentados. O aumento de limites físicos, motores e cognitivos compromete a disponibilidade, o ir e vir. Quanto mais sejam suportados, contornados por exercícios e aparelhos, maiores as transformações do que limita.   A manutenção das perspectivas de vida vão depender da superação e aceitação dos limites restri...

Transcendendo os limites dos processos adaptativos

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    Do ponto de vista biológico somos animais, os mais desenvolvidos da escala zoológica, mas animais. Arbitrar que a cultura, os aspectos sociais e psicológicos, a religiosidade e espiritualidade, enfim, que o processo civilizatório nos define não é suficiente para estabelecer diferenças, para nos tirar da esfera animal, da esfera de sobrevivência.   O que nos diferencia, então, dos outros animais? Por que não somos apenas animais? Por perguntar. É o questionamento, é o fato de ir além do que acontece que nos define e situa, que nos humaniza. A toda hora, todo dia, todo momento isso é feito, e também não é feito quando seguimos correntes, direções, quando agarramos respostas para sobreviver. Esse processo tanto é adaptativo quanto desumanizador. Nos torna cada vez mais adaptados e também desadaptados. A desadaptação é uma forma de adaptação, está sempre em função dos mesmos referenciais adaptadores. A adaptação é, nesse contexto, um equivalente da lei da gravitaç...

O que nos sustenta, derruba e constitui

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    Harmonia - ou saber o que ocorre - é fundamental para existirmos, mas é também o limite, é como estar entre quatro paredes.   Definir harmonia como saber o que ocorre implica em dizer que quando ela é valorada assim, ela pode ser sinônimo tanto de algo bom quanto de algo mau. Nesse sentido, viver em guerra pode ser viver em harmonia, assim como também pode ser uma vida em harmonia viver em brigas e situações cotidianas nas quais o grito, a agressão são constantes. O uso da palavra harmonia em sua abrangência sinonimiza certeza, junção, encaixe, é saber que o que acontece continua acontecendo, não importa se o que acontece é bom ou ruim.   Como seres humanos vivemos em universos de certezas: o dia é sempre mais claro que a noite, as ondas do mar ecoam. Vivenciar o que ocorre implica sempre em participação. Participar, fazer parte, coexistir, dialogar, perceber é constatação, mas é também prolongamento perceptivo: é pensar.   Estar diante do ou...

Agenciamento

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    Utilizar pessoas e situações para os próprios interesses e conveniências é oportunismo, é transformar a própria incapacidade em condição e em estimulo para usar e roubar. É também aumentar o próprio processo de despersonalização. Em lugar de enfrentar os próprios impedimentos e incapacidades e transformá-los, o indivíduo usa e copia e assim adquire o que lhe falta. Esse processo de uso é a mentira e o engano.   Sociedades e também famílias são basicamente estabelecidas em função de manter os próprios meios, adquirir novos e propiciar melhoras progressivas a seus cidadãos ou membros. Esse propósito, para ser exercido, cria grupos, classes. Divide seus membros seja na sociedade, seja na família. Trata-se, por exemplo, do filho menor ou o mais fraco que precisa receber mais cuidados, transformando-se em alvo que desequilibra por criar divisão de recursos e de olhares, ele pode também ser visto como o improdutivo, o que atrapalha e consome sem produzir. Surgem div...