Transposição de obstáculos

Superar é transpor obstáculos tanto quanto ultrapassar referenciais identificatórios. Ao transpor obstáculos se transforma limites, se realiza desejos e se recontextualiza. Esta recontextualização é responsável pela neutralização de vivências e situações de não aceitação, assim como também pode ser incentivadora de novas metas geradas pelos processos da não aceitação.

Estímulos e incentivos estruturados com o objetivo de apagar referenciais considerados empobrecedores e empobrecidos, seja no aspecto econômico, social ou pessoal, leva a constantes desafios motivadores do desejo de superar. Quando a transformação do limite é realizada no contexto do autorreferenciamento, surge muita ambição, certezas e inseguranças e não há solidariedade. A participação é contingenciada pela competição; ser o melhor é então uma imposição, tanto quanto continuar mantendo o que conseguiu, mesmo que isto implique em destruir o que ameaça. Quando o outro é o ameaçador, ele é transformado - por conveniência, estratégia ou necessidade - em objeto e assim pode, literalmente, ser destruido ou tirado do caminho.

Superar exige a magia da criatividade, estabelece liberdade, disponibilidade e flexibilidade; amplia os referenciais e inclui o outro sem limites restritivos como os estabelecidos pelo autorreferenciamento.

Ultrapassar referenciais com execução de regras e padrões que podem prover bem-estar e sucesso é a guilhotina que despersonaliza e coisifica. É o esforço por um diploma, por um emprego super valorizado, pelo convívio com o poder ou com elites diversas (econômicas, artísticas, intelectuais), é a busca obstinada por adequação física a um padrão (griffes, plásticas, próteses) etc. Conseguir ser o melhor, lutar por isto, geralmente é a maneira de eternizar o que causa o sentimento de incapacidade, com manchas à esconder, camufladas pelo sucesso.

Superar é mudar e isto requer liberdade e transformação. Superações que se constituem em upgrades ou "cerejas do bolo" alcançadas, nada mais são que metas batalhadas, resultantes de determinação obstinada e desestruturante.
















- "O Futuro Dura Muito Tempo" de Louis Althusser
- "A Loucura de Stalin" de Constantine Pleshakov



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