Resumos
Resumos facilitam a globalização ou instalam fragmentação, manipulação, poder.
Todo "faça você mesmo", "pronto para usar”, “não desista nunca” funciona como incentivo para pular etapas, para entender processos como fins úteis, pontes para transpor descontinuidades e vazios. A importância da ligação, dos resumos, geralmente se explica por vivências funcionais ditadas por outras estruturas e motivações diferentes das configuradas como impasses.
Resumos de processos dedicados à ampliação de necessidades, habilidades e pontuações são responsáveis pela Babel relacional que vai desde a exaltação das qualidades do novo detergente, até às viradas de opinião graças às habilidades de pessoas demagógicas, as pontuações destacadas pelos selos de qualidade, o IBOPE, as vitórias e resultados conseguidos. Esta manipulação dos processos, estes resumos, criam clichês, estereótipos, geram divisões, preconceitos, fragmentando o processo vital e social. Referências de bom, de ruim, de forte, fraco, poderoso, submisso, ao explicar, restringem, solapam toda uma essência que foi empacotada, etiquetada.
Resumos deixam resíduos criadores de fragmentação. São as contas do colar sempre organizadas através de um fio que as unifica, agrega e preserva. Em nosso dia a dia este fio, via de regra, é a religião, a política, “os conselhos psicológicos", as indicações do que é bom e acertado. Assim, juntar o fragmentado é a melhor maneira de arrumar, selecionar, tanto quanto é a pior maneira de resumir, abrigar e polarizar infinitas indicações. O fragmento A relacionado ao fragmento B, para atingir um fim, é arrancado de uma estrutura onde seu significado é totalizado por suas relações configuradoras.
Explicações do comportamento humano pelos hemisférios cerebrais direito e esquerdo, por exemplo - com suas implicações classificatórias: sensibilidade, objetividade, emotividade, racionalidade - solapam, embaçam o brilho característico do ser no mundo, transformando-o em contas a enfileirar, utilizadas para objetivos dos responsáveis pelos fios condutores, por tipificações facilitadoras.
Resumos criam junções impensáveis, alhos e bugalhos: o díspar torna-se semelhante para formar massa de manobra e orientação.
- “Sur les objets intentionnels” de Edmund Husserl e Kasimir Twardowski
- “A teoria vivida” de Mariza Peirano
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