Aprisionamentos doentios
Diante de muitas vicissitudes, doenças constantes e inúmeras, por exemplo, o ser humano se sente incapaz, prejudicado, doente, sozinho. Permanecesse neste sentimento, questionasse este momento, muito seria transformado. Acontece que quando se chega neste estado, geralmente ocorre não aceitação do mesmo. Começam a surgir deslocamentos, caracterizados principalmente pelo medo, pela carência, pela necessidade de ser aceito e cuidado pelos outros mais próximos, como familiares e amigos. Exigir cuidados constantes para justificar as próprias doenças, mazelas e impedimentos cria um contínuo estado de vitimização. Não pode haver melhora neste processo aguilhoante. Mais cuidados, mais amargura, mais desespero. Compreender que a realidade da doença aí está, que a mesma tem que ser suportada e que existem outras coisas saudáveis e válidas, é uma verdade. Esta reação é bem-vinda, causa tranquilidade, mas para ser mantida exige um mínimo de aceitação das situações limitadoras. Exatamente aí recomeçam as queixas, a vitimização, pois a não aceitação, de limites, de estar sozinho, de não ter alguém que cuide, é ameaçadora, e assim, neste contexto costumam pensar: foi tão fácil se sentir bem apesar de doente, que não deve ser difícil conseguir ficar bem novamente. É um novo dilema que surge, ancorado na velha questão da falta de autonomia, da não aceitação do limite. As novas justificativas agora são vivenciadas sobre outra base: o controle do que limita precisa ser aceito e não pode magicamente desaparecer, isto é, a doença existe, tanto quando a vida que deverá ser exercida de forma autônoma ao lidar com a doença, mas a pessoa teme falhar, ser abandonada, morrer. Começar a vivenciar os limites que a situam é exatamente tudo o que ela não quis ao abrir mão da própria autonomia.
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