“É milagre ou ciência?”
fonte: Royal Thai Navy |
“We are not sure if this is a miracle, a science, or what.
All the thirteen Wild Boars are now out of the cave” - Royal Thai Navy
(“Não temos certeza se isso é um milagre, se é ciência ou o quê.
Todos os treze Javalis Selvagens estão agora fora da caverna”)
Foi assim que o Comandante da Royal Thai Navy anunciou o fim do resgate bem sucedido do time de futebol juvenil tailandês, 12 crianças e seu técnico, que passaram 18 dias presos em uma caverna, em condições extremamente adversas, sem alimentação, sem água potável, sem luz solar, sem saída.
Esse espanto é a consideração significativa, a constatação do surpreendente e inesperado, da alegria diante das vidas salvas, tanto quanto é o deslumbramento pela resistência das crianças e admiração pela tecnologia, a engenharia utilizada para salvá-las. Abrir caminho na caverna inundada e vedada por lama e água, transportar oxigênio em completa escuridão por aberturas tão estreitas que mal permitem a passagem de um adulto é estarrecedor, foi uma proeza fruto da expertise humana e de tecnologia moderna, mas, mais estarrecedora é a resistência, a organização conseguida pelo técnico/professor e pelas crianças.
Aceitar limites, resistir e se organizar diante deles é um milagre. Poucos conseguem. Limites, em geral, são percebidos como obstáculos destruidores. O controle da ansiedade e do medo conseguido pelo professor/técnico semeou paz e aceitação nas crianças e assim foi possível resistir, foi possível o salvamento pelos engenheiros/mergulhadores e seus métodos científicos, pois a aceitação do limite neutralizou todas as destruições e privações implicadas nos acontecimentos.
Sempre há milagre quando se aceita o limite, quando se transforma e neutraliza necessidades. Desse modo as possibilidades humanas são infinitas, transcendendo o imediatismo da satisfação de necessidades (fome e sede por exemplo) e conferindo ao indivíduo sua dimensão humana: há pelo que resistir, há pelo que lutar, há encontro que possibilita essa transformação. É o milagre do estar-no-mundo-com-o-outro, aberto para infinitas dimensões, que rompe quaisquer enclausuramentos, tanto quanto é o equacionamento de variáveis, contradições e acertos que possibilitam transformar a realidade e quebrar limites. A ciência, por meio de seus engenhos e operadores, permite realizar transformações necessárias e por muitos almejadas.
Viver é lutar, é também encontrar saídas no escuro, no dentro do dentro. É este âmago, esta luminosidade que permite transformações, milagres.
Crianças, monge-treinador, cientistas, mergulhadores juntos abriram a caverna e também os corações para a percepção da difícil e infinita simplicidade humana, consequentemente contraditória, mas óbvia quando polarizada para resolução de atritos, dificuldades e barreiras intransponíveis. Aceitar seus limites até as últimas consequências neutraliza a ansiedade e cria caminho para mudança: os limites adquirem nova fisionomia e assim passam a ser conhecidos, desvendados.
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