Selfies
Impressiona ver como preparar-se para uma foto, mais especificamente preparar-se para uma selfie, parece com o fazer pose frente ao espelho. A câmara do celular vai registrar o que se deseja mostrar e bem mostrar: deve exibir beleza, felicidade, alegria, força, enfim, bom aspecto e boa cara que prometa bons momentos.
O outro é o espelho, é a própria pessoa nele reproduzida. A cara, os gestos feitos para as selfies transformam as câmaras do celulares em seres que aplaudem ou discordam de certas poses. Esse diálogo mudo, esse monólogo, é encenado diariamente. O corpo ou o rosto que se mostra pretende ser bem visto, e antes de fotografar-se ele se insinua dentro de referenciais do suposto omisso-presente-outro que tudo confere.
Tirar selfies é rascunhar mensagens, tecer redes encarregadas de trazer bons resultados e aplausos. Quando o outro é transformado no espelho - deslocamento narcísico, ou ainda, extrapolação autorreferenciada - os processos de coisificação e massificação se instalam, pois o que se cria é uma imagem, uma máscara que mesmo bela é desvitalizada: o duplo não é o mesmo, a cópia é a reprodução que ao repetir exalta as diferenças e não significa o representado embora o exiba. Esse processo se acentua e complica caso se considere que na selfie o espelho é o outro. A câmara que é transformada no outro, que consequentemente está reduzido na mesma.
A selfie é a pontualização, o ser reduzido às suas representações, esperando que talvez lhe seja atribuído elogios como resultado de seu empenho inicial em passar uma boa imagem, uma cara feliz, um bom aspecto.
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