Insólito
O inesperado, o que foge do controle, tanto quanto o que persistentemente nos acompanha, mesmo defasado ou despropositado, é sempre insólito.
As mães que cuidam de seus filhos de 25, 30 anos, por exemplo, orientando e aconselhando o que vestir, onde trabalhar, o que pensar, se constituem em companhias insólitas, presenças abusivas mesmo que requisitadas e consideradas. Esperar ou precisar ser considerado, compreendido equivale a cavar buracos em superfícies planas, buracos destinados a provocar quedas. Descontinuidades, emendas geram situações insólitas, criam dessemelhança em relação aos padrões e vivências. Situações que se adiam indefinidamente pela obstinação e necessidade de realização se constituem em fontes de vivências insólitas, pois se caracterizam por defasagens tempo-espaciais.
As atuais banalização e massificação dos processos grupais atingem também o indivíduo. Cada vez mais desumanizados, despersonalizados, os indivíduos se anulam e se afirmam por meio de performances que buscam suprir sua solidão, tanto quanto realizar experiências. Assistimos a inúmeros exemplos disso: são os relacionamentos e atitudes para com os próprios pets como se fossem seus irmãos, filhos, marido, mulher; é o casar-se consigo mesmo, fazendo festa, tirando fotos, mandando convites - realizar rituais, transformando-os em experiências pessoais de metas atingidas é bastante insólito e defasado.
Enfim, qualquer situação na qual a realidade é negada e transformada em função dos próprios desejos, medos e idiossincrasias, é insólita ou assim se torna pela continuidade do desempenho.
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