Percepção do Outro - o outro percebido como fonte de exploração VII

 




Escravidão ou escravização, esse processo que utiliza o outro para exploração, existe em vários níveis: desde a mãe explorada para cuidar dos filhos deixando de ter vida própria ou para ajudar o marido cuidando da família com segurança sem maiores ônus econômico-sociais, até a mão de obra mal paga ou não paga. Usar o outro para satisfazer desejos, dos sexuais aos sociais, intelectuais ou econômicos é também uma forma de escravização. 

Toda vez que alguém é submetido, essa submissão serve a algum propósito no qual apenas o dominador lucra e tem autonomia. Necessariamente, em todo processo de exploração ou escravização existe a perda de autonomia do dominado. Virar marionete, ser títere é uma maneira de desumanizar-se. Muitas pessoas só sobrevivem explorando, outras submetendo-se. O engano, o disfarce são formas aparentemente mais suaves de exploração, de submissão, mas são também muito prejudiciais, pois amarram o outro a mentiras, a enganos exploradores. Quantas mães alienam e destroem filhos por amarrá-los com carinhos, com cuidados que sempre exigem recíproca! Querer retribuição, reconhecimento é também uma maneira de explorar possibilidades e condições humanas. É uma forma de seduzir, consequentemente de enganar. Religiosos, líderes políticos, mestres volta e meia exploram, escravizam seguidores em função de seus próprios objetivos e vaidades.

Estar com o outro, ser com o outro é o suficiente. Quando surgem hierarquias, regras, dogmas começam a surgir exploração, espoliação, escravização. As relações afetivas frequentemente nos mostram isso por meio de dependências amorosas e impasses afetivos. Sem liberdade, sem disponibilidade o outro é estabelecido como aderência, vagando conforme as conveniências do agregador. Criar filhos para cuidar de si no futuro, e não para o mundo é outro exemplo comum de escravização. Ver no outro o que explorar agora ou no futuro, seja na esfera econômico-social (antigamente escravos na fazenda, agora empregados nas residências) ou na afetiva familiar é indicador de maldade, oportunismo e desumanidade.

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