Percepção do Outro - o outro percebido como o que traz novidade V

 



Quando tudo é percebido como igual, como monótono, é preciso novidade, acabar com a mesmice que desencadeia o tédio desagradável. Os processos de não aceitação transformam o cotidiano em uma vivência homogeneizante. Nada acontece. Tudo é igual. É necessário que alguém apareça trazendo boas novas. O mensageiro da nova ordem, da nova vida é aguardado. Tudo se resolveria caso aparecesse alguém com recursos, com motivação. Ter uma companhia, alguém que ajude, oriente, participe, tudo ao mesmo tempo, ou não, é o que se deseja.

Não conseguir se motivar por não aceitar seu presente cria expectativas. Vive-se esperando que alguém mude a carência, o vazio. Esse deslocamento decorre da não aceitação de si e de sua realidade. Esperar que o outro divirta, que crie novidade, é esperar o príncipe encantado ou a fada que tudo resolverá. Adiar a vida, delegando ao outro e às circunstâncias as dinamizações do que se descontinua é adiar desejos não realizados, cristalizando frustrações. O outro é esperado como a magia que resolverá dificuldades, e ainda, não é qualquer outro, é aquele capaz de mudar o estagnado. 

Na sociedade, na política frequentemente existe essa expectativa, essa procura: é o Salvador da pátria, o Messias, o ungido, o escolhido por Deus e capaz de consertar totalmente as situações. No entanto, quando se trata de salvação só o que existe é derrota, vazio, terra devastada como dizia T. S. Eliot. Impasses, divisões, não aceitação são os responsáveis por desejar a vinda do Messias, por desejar o príncipe encantado, a heroína que salvará. Quanto maior o processo da não aceitação e alienação, maior a expectativa de mudanças mágicas, maior a expectativa do que deverá ocorrer para que as situações se modifiquem.

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