Percepção do Outro - o outro percebido como proteção (insegurança) VI

 

Transformar o outro em muralha protetora, em cobertura que ampara é algo gerado pela insegurança, pela verificação do que se precisa de apoios, de boas bases de sustentabilidade para realizar o que se quer. Transformando e dando continuidade às relações familiares que existiam ou que não existam, como por exemplo pai e mãe protetores, reais ou imaginários, os indivíduos reduzem o grande mundo, os grandes espaços às dimensões de seus impasses, de seus propósitos. Precisar atingir ou quebrar limites e para tanto utilizar ou contar com o próximo é transformar o outro em peça da engrenagem a ser mantida, é também descaracterizá-lo pois seu modelo estruturante é o das figuras parentais ou os de casas e bunkers protetores. É infantilizador transformar as parceiras em mães, os parceiros em pais, tanto quanto o mestre, o professor e auxiliares em amigos. Relacionamentos calcados na busca e realização de proteção são, por definição, esvaziadores. O outro não é o que é, é o que se precisa que seja. Essa parcialização autorreferenciada é sonegadora da identidade do outro. Desvinculado do que lhe é próprio, de sua totalidade, fica referenciado e reduzido à sua função protetora e de segurança, resumido assim às problemáticas e dificuldades do outro. Nada é novo, a função é manter o que se conseguiu, e conseguir mais para que tudo se estabilize e continue. Como não existem processos independentes do tempo e do espaço, essas quimeras se quebram nas curvas do caminho, e máscaras caem, traições são denunciadas, expectativas frustradas. O protetor vira salteador, e essa é ironia frequente que acontece, ou ainda, quando a proteção desaparece - na morte por exemplo - não se sabe o que fazer da vida que resta viver, ou ainda, se descobre que a proteção era um aprisionamento alienador. Estar desvalido, não ter condições são processos apenas solucionáveis por questionamento e pela aceitação de limites.

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