Aletheia – verdade, revelação
Do ponto de vista da etimologia podemos lidar com a palavra aletheia não apenas como verdade, seu significado na filosofia pré-socrática, mas também como revelação do que existe. Nesse sentido, o prefixo a é a negação e lethe é o esquecimento. Portanto, aletheia, verdade, poder ser entendida como “não esquecido” ou “o que não está escondido”. Na filosofia grega era a resposta ao desvelamento da descoberta entre ser e realidade.
Freud e Heidegger muito exploraram essa ideia, transformando o significado de verdade em praticamente sinônimo da trajetória que consiste em sair do ocultamento: explicitado no inconsciente em Freud e entendido como o desvelamento do ser em Heidegger.
Saindo da polaridade descrita acima, da dualidade entre ser e parecer, realidade e ilusão ou objetividade e subjetividade, dizemos que verdade é o que se explicita. É o enunciado. Ela está sempre contextualizada no diálogo entre indivíduos, no que acontece e no que se questiona acontecer. A noção de verdade é um parâmetro. Essa baliza, a verdade, essa medida é sempre uma aderência, no sentido de estar além de seus estruturantes. É como se fosse uma vestimenta da ocorrência, podendo também ser sua mortalha. Vale lembrar a Bíblia: a verdade é inconsútil, não tem costura, como a túnica de Cristo. Esse sentido de inteireza e totalidade, o não acréscimo, a fidelidade é o que caracteriza a ideia de verdade. A roupa que revela, que não esconde seria um oximoro a decifrar, a pensar.
Acontece que o verdadeiro é o desconhecido, assim como é o revelado. Os caminhos da descoberta abrigam inúmeros sinônimos confirmadores, negadores e afirmativos. Nesse sentido, tudo é verdade.
Colocações sobre verdade e inverdade surgem da confrontação. Comparar exige sempre uma outra presença, a verdade por si mesma não basta. Verificar a verdade, encontrar a verdade é o emaranhado que esconde e nega existências, consequentemente, verdade é evidenciar, é uma pontualização resultante de infinitos encontros. Essa instantaneidade instabiliza o que é definitivo – a verdade – criando, desse modo, as falsas verdade, as falsas notícias, as falsas evidências.
Em suma, o verdadeiro e o falso se confundem caso não se destaquem as evidências, as aparências do existir, do ser.
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"Para haver mudança não basta vontade e desejo de mudar, são necessárias antíteses, situações, realidades que se antagonizem" - Vera Felicidade, in: Emparedados pelo vazio - Bem-estar e mal-estar contemporâneos
"Transformar o indivíduo que está impermeabilizado em participante, via enfoque psicoterápico, é criar novos encontros, novas configurações" - Vera Felicidade, in: Autismo em perspectiva na Psicoterapia Gestaltista




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