Infinito abrigado pelo finito
O organismo humano enquanto necessidade, limitado pelo seu próprio desgaste é uma contingência biológica que fragiliza o homem e revela sua precariedade. Viver em função dessa necessidade é sobreviver, é fazer convergir todas as suas possibilidades relacionais para este foco: sobrevivência. O organismo humano é também possibilidade relacional. O homem percebe o outro, o mundo e a si mesmo, categoriza, questiona-se, comunica-se, perpetua-se pela escrita, pelo desenho, pelo que cria e produz, expressa vivências. Neste processo o ser humano é imortal, é infinito. Transcendendo suas necessidades biológicas, exercendo suas possibilidades relacionais, rompe com a finitude de seus limites, atingindo assim o ilimitado, o infinito.
O Corpo, o organismo perece, mas as expressões relacionais afetivas eternizam-se. Questionamentos, explicações, dúvidas perpassam séculos ao desequilibrar os limites vigentes.
Esforçando-se por sobreviver da melhor forma ou de qualquer forma, o ser humano esvazia-se enquanto possibilidade relacional. Esse posicionamento na sobrevivência cria os que buscam prazer, bem-estar, notoriedade não importa como. Sobreviventes exercem sua desumanização em várias situações, das mais corriqueiras e cotidianas às consideradas perversões como os pedófilos, torturadores, enganadores, demagogos, gananciosos, deprimidos, todos compõem a galeria dos que estão reduzidos à sobrevivência.
Ultrapassar os padrões limitadores, abrir perspectivas é a maneira de realizar a infinita possibilidade humana de ser no mundo.
Perceber este antagonismo entre necessidade e possibilidade sem globalizar gera inúmeras visões religiosas e espiritualistas, criando assim o além de, o depois da vida, depois da morte como redenção final para o homem, por exemplo. Os paraisos buscados via religião foram também apreciados pelos usuários de diversas químicas: ópio, heroina etc.
Aceitar as necessidades e transformá-las, não se reduzir às mesmas é o que nos permite realizar a infinitude do estar com o outro no mundo sem posicionamentos nem fragmentações alienadoras.
"Alice no País das Maravilhas", Lewis Carroll
"O Último Teorema de Fermat", Simon Singh
"A Janela de Euclides", Leonard Mlodinow
verafelicidade@gmail.com
Vera,
ResponderExcluirEsse texto parece mesmo ser uma continuação do anterior (A eternidade está no presente) e tão incrível quanto.
Aceitando e portanto transcendendo as nossas necessidades, os nossos limites, abrem-se infinitas possibilidades relacionais. Exercendo essas possibilidades deixamos de ser sobreviventes, pois não estamos mais presos às metas, aos esforços diários para nos manter jovens e belos, para conseguir e manter coisas, relacionamentos, mascarando o que de fato somos.
Como voce disse no comentário do texto anterior: "é realmente surpreendente como a reversibilidasde dos contextos permite mudança de percepçao, consequentemente de pensamento e de vivencias: limites podem ser transformados em liberdade etc."
Obrigada.
Bjs.
Obrigada, Iona .
ExcluirBeijos, Vera
Oi, seria possível dar-me um exemplo de reversibilidade de contextos; limites transformados em liberdade?
ResponderExcluirgrato!
Diego,
ExcluirPara entender reversibilidade de contextos, basta pensar em Figura-Fundo, lei basica da percepçao.
O que é Figura-Fundo? Toda percepção se dá em termos de Figura-Fundo, estabelece a Psicologia da Gestalt. O percebido é a Figura, o Fundo nunca é percebido, quando o é transforma-se em Figura. Exemplo: você agora está percebendo letras (brancas) ( Figura), sob elas existe um textura colorida (preto), quando chamo atenção esta cor (preta) é percebida , é Figura, houve reversibilidade perceptiva.
Exemplo de limites tarnsformados em liberdade: a dificuldade sexual de alguém (limite), quando é aceita permite a realização ou renúncia de desejos (relacionados à dificuldade), liberdade por exemplo.
Abraço
Essa lei da percepção, quando a entendi, me confirmou um dito que o tamanho da dificuldade é o mesmo da facilidade. Abraço
Excluirgrato pela lembrança, Augusto.
ExcluirOlá Vera, ler seus artigos, acompanhar seu pensamento é ter acesso a uma fonte infindável de questões fundamentais e respostas extasiantes. É tão impressionante como a lida cotidiana pode ser cheia de "pequenas maldades" que deixam tantas cicatrizes; é tão impressionante ver semelhantes exercendo "grandes maldades" que vêm a público na mídia escandalizando a todos. Fico extasiada (no bom sentido da palavra) de ver como você consegue transcender dualismos e valorações, como a que descrevi acima, e mostrar que o posicionamento na sobrevivência é o denominador comum destas situações, é o que nos limita e desumaniza, o que nos reduz a um organismo, o que nos "animaliza".
ResponderExcluirÀs vezes acho tudo um caos - incoerências, impossibilidades, desorganizações, belos discursos X péssimas ações, maldades descomunais - fico achando que nós "humanos" não temos solução; aí tenho que vir ler seus artigos, um alento...
Abraço
Bom Ana, que perspectivas sempre existem.
ExcluirAbraços
Bom dia Vera, talvez esteja fora do contexto como aceitar que não se aceita? Como viver esta não aceitação ?
ResponderExcluirRosélia, para aceitar que não se aceita é preciso se deter no problema, se deter na não aceitação; resistir às necessidades de deslocamento da não aceitação.
ExcluirBeijos