Alívio de sintomas
Quando os deslocamentos que criam ansiedade, medo, insegurança etc são neutralizados pela psicoterapia, aparece tranquilidade, determinação e segurança.
Sem mudar a estrutura, esta substituição de vivências, de atitudes acontece na estrutura de não aceitação, de pessoa descontente, cheia de restrições a si, por exemplo. Quando isto ocorre, os sintomas desaparecem, são superados, mas geralmente não há mudança. O que impede o processo de transformação da estrutura problemática é causado pelo posicionamento, pela instrumentalização do bem-estar, da melhora. Esta instrumentalização é feita no sentido de realizar todas as demandas - as metas geradas pela não aceitação.
Sem o pânico paralisante o indivíduo reinsere, retoma sua cega obstinação em ter prazer, por exemplo, não importa como, nem com quem. Obstinadamente busca realizar suas metas, procurando ter o que lhe satisfaz. Reinstala-se o círculo vicioso. Sem saída, cada vez mais marcado pelo que necessita, voltam os deslocamentos. Até globalizar, apreender seu processo, ele tenta por ensaio e erro, somar, aplacar, consumir, canibalizar o que considera vital para seu bem-estar.
Desistindo dos processos transformadores a fim de manter os desejos realizados e metas alcançadas, começa a se formar ansiedade que aplacada ou mantida torna-se responsável por prepotências criadoras de depressão etc.
Transformar o problema em justificativa é o grande álibi que mantém as parcializações. São os vitoriosos, que aos olhos de todos são excelentes pessoas apesar de terem um problema (fobias, depressão, ansiedade etc).
O grande nó, a liberação terapêutica é perceber que o que satisfaz é também o que aumenta, mantém e nutre os problemas. Surge o insight: a questão não é superar limites, é transformá-los.
"Um Método Muito Perigoso" - John Kerr
"Teoria do Drama Burguês: Século XVIII" - Peter Szondi
verafelicidade@gmail.com
Suas explicações encaixam, explicam e organizam o caos de tantas situações corriqueiras, Vera! São tantas coisas que empurramos para debaixo do tapete, que tentamos ignorar, que deixamos para lidar mais tarde… e que corroem a vida. Seu texto é brilhantemente técnico na abordagem do processo terapêutico, mas penso que ele esclarece também o comportamento de pessoas que não fazem terapia e que tem momentos de "alívio" de seus problemas seja por ilusões (relacionamentos, envolvimento religioso etc) seja por atitudes consumistas (comprar, afagar o próprio 'ego' etc); são rápidos momentos de alívio que fazem os problemas estruturais ressurgirem com mais força e destruição. Normalmente são os sintomas que nos levam à busca da psicoterapia e em uma abordagem como a sua fica claro que eles apenas sinalizam a direção de uma longa estrada que exige sinceridade e até coragem para ser seguida; você concorda?
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Ana, de acordo com o que você fala, exceto que não é questão de coragem, é questão de honestidade, isto é, estar dedicado ao que se deseja mudar independente das vantagens, das valorações. O difícil é o abrir mão. Geralmente se quer mudar, mantendo as conveniências e largando o inconveniete. Impossível. Decepa-se a alma, o ânimo, a motivação - sempre se avalia. Isso cria tédio, depressão.
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"Questão de honestidade"... Obrigada pela resposta, me levou a outra dimensão.
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