Igualdade e diferença
O igual é o diferente. Falar de igualdade ou de diferença pressupõe um terceiro ponto de comparação. Ser igual a A é ser diferente de não-A. Cachorros semelhantes entre si, por exemplo (são todos cachorros), são diferentes enquanto eles próprios (indivíduos).
Da mesma forma, a continuidade mantém igualdade ao estruturar as diferenças. Heráclito dizia que as águas do rio onde o homem se banha nunca são as mesmas, "não se pode entrar duas vezes no mesmo rio". O rio é contínuo, passa, o imerso não continua ou ainda a água que passa pelo calcanhar é outra diferente da que passa pelos dedos dos pés.
Continuar e permanecer são também paradoxos contidos nestas afirmações resultantes de contextos estruturantes não explicitados.
Só pode continuar o que permanece, tanto quanto a divisão traz em si sua unificação. O que divide é o mesmo que unifica. Polaridades sempre traduzem unidades se globalizados seus contextos estruturantes. Perceber o diferente como o igual é um dos grandes momentos geradores de tranquilidade, de abolição de antagonismos e divergências. Ver isto é integrar o excluido - o diferente - ao perceber que todos somos seres, por exemplo.
A criação de parâmetros, de regras, estabelece diferenças ou semelhanças hauridas de situações alheias ao que existe. A comparação é sempre resultante de outros contextos. Por utilidade, por vantagem, são criadas categorias, tipificações. Igualdade e diferença podem originar idéias de superior e inferior, melhor e pior e assim são extintos animais, destruidas culturas e nações são subjugadas.
Somos todos seres vivos iguais como tais e diferentes enquanto estruturas individualizadas.
"Quando fui outro", de Fernando Pessoa
verafelicidade@gmail.com
Nada Tudo, Marisa Monte
ResponderExcluirNada, nada, nada
Tudo, tudo, tudo
Nada e tudo, eu não sei mais
O que não é inteiro
Nosso mundo vai - de alma
Com o pé na terra
E no escuro se vê
Já se vê
É o tempo do muito, do tanto
Que eu vejo - a nossa semelhança
E todo o toque - já é novidade
Juntos a um passo do distante
A nossa diferença nos faz
Iguais ao sabor
Desse sal, doce sal
Que tempera a nossa cidade
Nossa luz, sal do céu
Nos olha e mira, atira
Dispara e se espalha em som
Oi Augusto, uma bela música! Maneira poética de falar da questão.
ResponderExcluirAbraço