Prolongamento e transcendência

A única maneira de não ser tragado e esgotado pelas necessidades de sobrevivência é através da realização de possibilidades intrínsecas ao humano.

Vivenciar o presente gera sempre continuidade. Este suporte, esta continuação, prolonga e transcende o vivenciado, criando novas necessidades ou ampliando possibilidades.

Nas estruturas fragmentadas pela não aceitação, a satisfação de necessidades está sempre criando novas demandas, mesmo que sejam as de manutenção e garantia do conseguido.

Nas estruturas inteiras, de aceitação, de aceitação da não aceitação, satisfazer necessidades é abrir perspectivas, é gerar continuidade para ampliação relacional. Este ficar quieto, em paz e aberto para o que ocorre é a disponibilidade: suporte fundamental para transcender limites e contingências. É através disto que podemos entender porquê quanto mais se presentifica mais se é disponível e inteiro para transcender limites, para entender que a morte faz parte da vida, por exemplo. A fusão de contrários, a unificação das divisões ocorre assim.

Sem a continuidade do presente que prolonga e transcende o vivenciado, a vida é realmente "um vale de lágrimas", as perdas e frustrações são constantes e a ansiedade gerada pelas metas preside o dia a dia, impedindo a disponibilidade, criando ganância, medo e mágoas e assim se vive no passado ou no futuro, perdendo-se o processo que permite tudo perceber e aceitar.
















"Dialética do Concreto" de Karel Kosik
"Martin Heidegger: Fenomenologia da Liberdade" de Günter Figal


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