Organizar
Perceber o que ocorre e suas implicações permite organizar referências, sinais e processos. A continuidade desta vivência ao ser descrita, narrada, faz com que se situem e encaixem cenários, paisagens, sentimentos e cogitações.
Entender as implicações dos próprios atos, poder contar a própria história de vida, entendendo seus diversos desenvolvimentos, é organizador. Quando se consegue responder ao que está acontecendo ou ao que aconteceu, se começa a estabelecer ordem. É clássico na psiquiatria, para o diagnóstico diferencial, perguntar: Que dia é hoje? Onde você está? Como é seu nome? O desorientado não responde e este é um dos sintomas típicos da loucura.
Comumente, quando não se sabe por que acontece o que acontece ou nem se imaginava ser possível saber, fala-se em alienação ou em inconsciência.
Estar imerso na satisfação de desejos/necessidades esvazia, desumaniza, desorganiza, autorreferencia. São os pontos, os fragmentos humanos esperando seus polos de atração, esperando o que lhes vai dar consistência: do guru à Bíblia, ao príncipe encantado ou à princesa salvadora.
Organizar é determinar, discriminar (separar o joio do trigo). O processo organizativo só existe se é resultante do que está diante; quando tal não ocorre os critérios da organização são a priori, ferramentas, redes usadas para conseguir o que se precisa; o mundo fica "organizado" em termos do que vai fazer bem ou do que vai causar mal. Nestes casos não há organização, o que existe são esquemas prévios, funcionando como captadores, armazenadores.
Organização é sempre intrínseca ao percebido e vivenciado; quando extrínseca, não é organização, é regulamentação, produção de rótulos e categorias.

- "Filosofia de las formas simbólicas" de Ernst Cassirer
- "O Homem que se achava Napoleão - Por uma história política
da loucura" de Laure Murat
verafelicidade@gmail.com
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