Pragmatismo alienador
Quanto maior o convívio com o outro e com situações diversas, mais são antecipados e previsíveis os comportamentos. A familiaridade, o contato diário e contínuo, permite cada vez mais perceber o que está diante, antecipar comportamentos ao estabelecer Closura*.
A continuidade de relacionamentos e situações também pode levar a posicionar-se na previsibilidade, impedindo a percepção do outro, do que está diante, pois a saturação, o adensamento perceptivo, pela frequência contínua, homogeneíza, impede a diferenciação, o destaque, a extinção da conduta exploratória - da motivação. A previsibilidade é uma forma de extinguir dinâmica, tanto quanto de possibilitar adaptação, adequação: não se inventa a roda, se utiliza a roda, por exemplo.
Confiança, estabilidade e também segurança decorrem deste convívio familiarizado, permanente, tanto quanto também decorre deste convívio, a criação de suas ferramentas estabilizadoras: automação, repetição, mesmice garantida.
Os relacionamentos com o outro e com as situações, quando são desafiantes - estruturados em dificuldades e não aceitações - se desenvolvem com o objetivo de vencer, realizar ou evitar fracassar, evitar perder. Extinguir os impasses, sanar dificuldades, se impõe a todo momento, até que se consegue prever o que vai atrapalhar, o que vai ajudar, conseguindo também desvitalizar e coisificar o outro, transformá-lo em uma peça no tabuleiro, no jogo de impasses e desafios que constitui o processo desvitalizador da alienação pragmática.
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* Lei da Closura ou do fechamento - insinuação de dados que completam o percebido.
“O amigo de infância”, de Donna Tartt
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O que é o real nesse contexto.
ResponderExcluirNas dinâmicas relacionais, real é o percebido. Visões dualistas estabelecem domínios do sujeito, domínios do objeto, dividem para entender.
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