Dificuldades contínuas

Nos processos psicoterápicos é frequente assistir às insatisfações expressas pelos clientes e geradas pela constatação de que a solução surge, mas os problemas permanecem. Esta contradição é entendida e resolvida quando é percebido que a solução estabelecida e desejada para uma problemática específica não é admitida quando ela não se realiza como imaginado. Problemas existem e são solucionados quando se percebe e muda seus estruturantes, isto é, as situações que os governam. Problemas jamais são resolvidos quando se busca solução para os mesmos sem considerar as realidades e estruturas que os engendraram.

Basta haver problema, para que haja solução, então, por que as pessoas permanecem com problemas, por que não encontram solução? Por buscá-las independente dos dados do problema, buscá-las além dos mesmos, além do que é problemático. Em geral, todos admitem ter problemas, no sentido de ter dificuldades, mas não admitem, não percebem que suas motivações, atitudes, medos e dificuldades decorrem de suas não aceitações, decorrem de suas problemáticas.

Considerar-se feio, sem atrativos, por exemplo, faz com que se busque ser considerado, elogiado, ou no mínimo não ser criticado. Quando as críticas ou desconsiderações acontecem, isso é vivenciado como discriminação. A solução seria, através de questionamentos, constatar as não aceitações, os modelos e padrões que criam o critério de feio, de sem atrativos, em lugar de querer ser aceito, ser elogiado.

Deter-se nas dificuldades, deter-se nos medos é solucionador. É a maneira de estar disponível para os próprios problemas.


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