“Não posso, mas consigo”




Constatar uma impossibilidade e desconsiderá-la em função de um resultado que se crê necessário, frequentemente gera esforço, mentiras, desesperos, maldades, frustração e decepção.  

“Não posso, mas consigo” não gera conflito, embora, por definição, seja uma situação paradoxal, consequentemente, conflitante. A neutralização da incapacidade é o primeiro passo que se dá para manter o propósito e o empenho de conseguir. É também o que faz desaparecer a possibilidade de conflito.

Negar o existente implica em criar outra aparência. A falta de condição, o não poder ser desconsiderado ou subestimado diante do empenho para conseguir, leva a inventar capacidades. Como se faz isso? Copiando, plagiando, utilizando os outros para realizar o que não se tem condições, o que não se pode, mas se objetiva conseguir.

Na contemporaneidade, a tecnologia é utilizada para realização desses milagres pretendidos e buscados pela impotência ou incapacidade: desde as sexagenárias realizando o sonho de ter filhos, de serem mães “agora que podem cuidar dos rebentos” por exemplo, até os ajudantes, as barrigas de aluguel, pagas para realizar os desejos maternais.

Constatar uma incapacidade, quando possível, deve e pode ensejar superação da mesma, entretanto, constatar uma incapacidade, negá-la e independente da mesma, realizar objetivos pretendidos, é alienador, neurotizante, pois obriga o indivíduo a viver em função do que aparenta, do que instrumentaliza, dos enganos e mentiras construídos.

Superação é dignificante, mentira é aliciadora.



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