Inconsequência
Vivências pontualizadas dos acontecimentos - do que ocorre - são típicas de posicionamentos autorreferenciados. Pessoas que vêem o mundo, o outro e a si mesmas a partir dos próprios e únicos referenciais e critérios, não percebem as malhas relacionais, tampouco as implicações das mesmas.
Reduzir tudo aos próprios desejos, medos e frustrações, tanto quanto acondicionar tudo nas caixas da experiência, aglutina disparidades, instalando caos, confusão e, assim, criando os únicos habitantes possíveis para estas atmosferas: os impulsivos, os inconsequentes, os irresponsáveis e imediatistas. É o “bateu, levou”, o “deixa comigo”, o “resolvo agora” que povoa este universo.
Atitudes inconsequentes são autorreferenciadas e pontualizadas. Existem quase como equivalentes de onipotência. O outro, o mundo causa sempre surpresa, assusta, exige interjeições, gritos, urros. Tudo é extravasado pois nada é refletido, questionado, continuado. Sem questionamento não há percepção das implicações, tudo é interjeição, quando muito, adjetivos para povoar o vazio que agora, desse modo, continua o não substantivado.
No autorreferenciamento o indivíduo é platéia de si mesmo. É também o filtro e o crivo a partir do qual tudo é percebido, pensado, dialogado, de tal maneira que é configurado como único existente no mundo, e portanto se imagina um contexto a partir do qual tudo ocorre, tudo acontece.
A continuidade de vivências inconsequentes possibilita interrupção dos confrontos criadores de questionamentos e aberturas, e também a interrupção de maior enfrentamento de suas posturas redutoras. Enquistado, enrolado em si mesmo, o nível de inconsequência aumenta, pois impermeabilizações arbitrárias foram atingidas. A depressão, a ansiedade passam a ser os dinamizantes. É um movimento grave, pois, devido ao exíguo espaço ocupado pelos posicionamentos, as áreas dinamizadoras implodem. Dragas são necessárias a fim de sobreviver. Estes artifícios para sobrevivência, também imediatistas, eternizam as descontinuidades, fragmentam e posicionam. Um dos exemplos disso é a insônia provocada pela ansiedade, pela depressão. Para essas pessoas, conseguir dormir é o grande objetivo e impõe ações imediatas. Tranquilizantes e soníferos são ingeridos, e então, dormindo ou sem dormir, o imediatismo é entronizado, tudo girando em função de objetivos e necessidades a aplacar e realizar.
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