Contornos e realizações
Sob o ponto de vista pragmático, no qual a utilidade e resultado são fundamentais, o importante é sempre poder reciclar, corrigir, consertar e saber como acertar. Não perder oportunidade, ter sempre recursos - estar programado - caracteriza essa constante vigilância, esse olhar para o futuro ou constante espreita das boas oportunidades. É uma acentuada expectativa, que se traduz por tensão e diminuição de participação nos dados reais, no que está acontecendo.
Buscando resultados, acertos e vitórias, se programa a vida para esperar. Essa sequência, eterniza o vazio que é a espera nebulosa preenchida pelo que se propõe, pelo que se deseja. A liberdade que virá pela independência - profissionalização e casamento dos filhos, por exemplo - o tempo aberto e livre que propiciará viagens e divertimentos após aposentadoria, quando acontece, geralmente encontra seres cansados, entediados, deprimidos, pois passaram a vida privando-se do presente, da atualização de seus desejos, dúvidas e frustrações.
O acúmulo é transbordante. Deixando tudo para depois, já não se tem força, desejo, motivação para lidar com o depósito de coisas incompletas, quebradas, fragmentadas e mantidas ao longo do tempo. Preocupados em contornar, em atingir o programado para ter os dias felizes, mais se perde o trabalho dos dias.
Substituir processos por resultados é pulverizar a vida, é esvaziar a motivação. Mais válido a luta, o enfrentamento que, no mínimo, além de definir situações, contextos e jornadas, tonaliza o ânimo, mantém a vida. Mais vale não ter conseguido, por abrir mão do que não está ao próprio alcance, que conseguir enganando, roubando e destruindo outros em função do próprio sonho, desejo e ilusão.
Muitos pais se sentem fracassados pela falta de obediência dos filhos, não conseguem perceber o quanto os destruiram e enfraqueceram, ao ponto de transformá-los em opositores dos próprios desejos.
Para haver realização basta estar vivo e contextualizado em seus limites e possibilidades. Contornos geralmente provocam contorcionismos que esmagam, mutilam e se traduzem por colar os quebrados, tanto quanto pelo abrir mão das próprias verdades e convicções, medos e desejos.
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