Exato e nítido




Cores vivas, formas marcadas, silhuetas delineadas, tudo que é expresso pode ser nítido ou ambíguo. Podemos pensar também que em alguns casos a ambiguidade é nítida.

Expressar é sempre estabelecer referenciais, tanto quanto mostrá-los, explicitá-los. Estruturalmente, o que se expressa decorre de suas inúmeras variáveis contextualizantes. Via de regra são mais pregnantes uns aspectos que outros e essa reversibilidade cria nitidez, tanto quanto expressa ambiguidade e vice-versa.

Ter as coisas no próprio lugar, nada faltar ao organismo saudável, viver em sociedade na qual os configuradores sistêmicos não são totalitários, na qual estão presentes os constantes encontros definidores; viver em função do que ocorre, andar sem olhar para trás, ou mesmo quando tal acontece vislumbrar caminhos e desvios, são maneiras de tornar exato, exequível o nítido.

Confusão, adiamento, desorganização configuram o isolamento, a redução de variáveis aos estruturantes responsáveis pela expressão e aí só surgem propósitos, objetivos, metas que transformam tudo em situações a atingir, transformam tudo em busca do exato, do nítido, não permitindo ambiguidades pois o desejo é vencer ou vencer. Essa redução pontualiza motivações, relacionamentos e informações, expressa o buscado. É a ideia-fixa característica da obsessão.

É por meio da nitidez processual que se consegue exatidão, açambarcamento das variáveis configuradoras e responsáveis pelo estar com o outro, pelo estar no mundo, e como dizia Wittgenstein: “na morte, o mundo não muda, mas acaba” ou seja, não havendo mais percepção, não há nitidez, não há ambiguidade, não há percebedor, não há lugar ocupado no tempo, não há espaço ocupado pelo indivíduo.


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