Seguir é se perder



As militâncias são informes, apesar de densas. É a clássica manada. É o seguir sem saber o quê, apenas garantindo o lugar que lhe é destinado.

A melhor maneira de negar processos, mudanças e evidências é valorizando seguidores. Segue-se o que está sendo seguido, que por sua vez segue o outro seguido. O que resulta, o que acontece é a expressão da contradição, mas precisa ser catapultado à nova ordem.

Em todas as esferas, da individual à social, isso é uma evidência, entretanto, quase sempre é obscura, ambígua, a evidência não é percebida, pois muitas variáveis, inúmeras situações se interpenetram. É a confusão, o não discernimento, a descontinuidade.

É exatamente nesse momento da descontinuidade que as lideranças manipulam, levando sempre a discriminar e assim polarizar a multidão que é cega, pois a ela compete andar, seguir. Transformar questões qualitativas - evidências, constatações - em dados, em polarizantes, em formas de angariar adeptos, é o que vem sendo feito ao longo dos séculos pelas religiões, partidos políticos, lideranças e diversos grupos comprometidos com o que querem realizar e conseguir. Angariar pessoas para o crime, para consumir drogas, para destruir sítios arqueológicos, para remover indígenas, são, por exemplo, maneiras de criar seguidores, multidões que podem sustentar os interesses dos grupos. A economia do Capital, com suas propostas de grandes satisfações, cria as multidões consumistas que seguem a moda, o padrão e se perdem em tantas coleções, tantos itens adquiridos!

Questionar as motivações circunstanciais pode ser eficaz quando se quer quebrar regras, dogmas e incentivos. A individualização dos processos requer questionamento e verificação dos mesmos. Seguir por entender porque se quer, por se encontrar, é uma forma de não se perder na multidão cega do apoio, do desejo e do medo. Isso é válido para as questões consideradas públicas, tanto quanto para a vida privada, divisão questionável, mas que configura espaços de atuação.

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