Risos e prantos

 




Perceber sempre o que falta transforma o indivíduo em queixoso, revoltado, ou em excelente lutador para conseguir o que lhe falta, o que precisa.

As constantes verificações do que é necessário ser feito estabelece o útil e o necessário como maneira de troca e como fundamental para vivenciar os relacionamentos com os outros, com a sociedade, com o cotidiano. Surge assim a escalada para resultados, para o que se precisa conseguir. A ideia de que tudo pode ser adquirido, a ideia de que a luta, o esforço de melhorar vai trazer bons resultados, é o algo a mais adquirido na educação, seja ela familiar ou escolar. A máxima “lute, se esforce que você melhora” é um engano que neurotiza. Criado para o depois, para o futuro, para sobreviver, o indivíduo se aliena e pode passar a negar as dinâmicas existenciais nas quais o fundamento é o presente, é o outro, é o estar concentrado no que se vivencia, podendo, por meio dessa experiência, transcender e atingir outras relações configuradoras do estar no mundo.

A busca de resultados pontualiza e exila de si mesmo. Invadido pela busca de bons resultados e de bom futuro, se destrói, e os desejos, vivências e possibilidades são rotuladas como esteio para as longas jornadas. Nesse processo nasce o medo, a insegurança, a depressão, a ansiedade, o vazio. Tudo que foi vivenciado foi transformado em marca, em sinal para um tempo futuro a ser evitado ou realizado. As estampas, as marcas configuram abandono ou realizações precárias determinadas por posicionamentos. E é essa continuidade vivencial esclerosada a responsável pelas lembranças, memórias que sempre despertam riso ou pranto, enfim, desejos atingidos ou frustrados.

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