A cegueira da ambição
Querer obstinadamente, ou precisar de alguma coisa ou de alguém, faz com que as pessoas caminhem às cegas para realização de desejos. O desejo, o propósito, o que se quer, funciona como uma espécie de farol, de luz que ilumina as trevas. Assim, só se avança às cegas, só se trilha os escuros caminhos quando se está obcecado, seduzido pelo êxito, pelo resultado do que se quer conseguir. A pessoa apenas se coloca a possibilidade de vencer ou vencer. Não há perspectiva, não admite a possibilidade de derrota, de fracasso, de não realização, pois a meta, o propósito, o processo ganancioso, a impossibilidade de fracassar é soberana, é o único existente para nortear caminhos.
A meta funciona como um redutor de tensão e de possibilidades, um açambarcador de desejos e propósitos que ilumina rotas e faz enxergar nas trevas. É uma atitude que exaure, cria medos, pânicos e desespero. A ideia de que tem que dar certo, tem que conseguir é avassaladora, faz com que o cego ande, mas faz também com que ele se aniquile como ser humano, como possibilidade relacional, desde que só conhece suas necessidades e seus impulsos que empurram para a vitória para a despersonalização, solidão e medo.
De tanto buscar progredir o indivíduo não consegue perceber o momento de retirada, e por andar às cegas, apenas guiado pela pouca luz de seus propósitos e desejos, ele cai em abismos, buracos ocasionais que o aprisionam e enlouquecem pelo medo, pela frustração, pela realização ou pelo fracasso.
É se descobrir realizado na unilateralização de propósitos o que o ameaça, o desespera, pois constata o quão pouco foi conseguido pelo esforço de toda a vida. É o vencer ou vencer dos que não mais tem o quê, nem em quê apostar. É a escuridão mantida pelo não questionamento do que obscurece e despersonaliza. Cada dia mais corriqueiro, lutar para ser alguém na vida, na sociedade, por exemplo, é iniciar um processo de auto destruição, pois o início, a proposta "ser alguém" já é em si negadora do próprio ser (do que se é).
Caso não se perceba, não se aceite o que se é, se torna necessário conviver com as contradições da situação e ir, no embate diário esclarecedor, resolvendo as questões que infelicitam, afligem e não são aceitas.
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