Estruturas responsáveis por mudança
Perceber que os outros têm o que não se tem, ou perceber que se é injustiçado ou não é reconhecido são situações perfeitas para estruturar revolta. As comparações, a medida do afeto recebido, a falta sentida pelo que é necessário – a alimentação mínima, por exemplo – cria revolta. Assim como começa a existir revolta quando falta justiça, igualdade de parâmetros e de critérios. Em certos contextos, principalmente profissionais, não ser reconhecido como propiciador de mudança, como agente efetivo de transformação, pode também gerar revolta.
Não basta comparações que geram desigualdades, arbitrariedades e descaso para haver revolta. O principal núcleo estruturante de atitudes revoltadas decorre de comparações, verificações geradas pela não aceitação do que se vivencia. Sentir-se colocado em situações subalternas, desprivilegiadas e estigmatizadas, quando tudo é medido, observado e comparado, cria raiva, inveja, medo, fazendo com que o indivíduo se sinta preterido e inferiorizado. Se ele próprio não entrasse na comparação criada pela utilização de critérios alheios ao vivenciado, se estivesse detido e contido no próprio presente vivenciado, não faria nem endossaria comparações alienantes geradoras de raiva, revolta e medo. Existiria apenas constatação. Essa constatação desenharia mapas e contornos diversos. O indivíduo perceberia que não é avaliado pelo que faz ou pelo que não faz, e sim pelo que os outros fazem ou não fizeram, pelas memórias e frustrações de outras situações. Não haveria revolta, haveria desprezo e questionamento pelas situações, pelos outros que a suportam e avaliam. Ao invés da revolta teríamos percepções sinônimas da apreensão de relações configuradoras de conhecimento, saber o que é injustiça, o que é não reconhecimento e opressão. Desse modo, seriam desbravados caminhos e construídas estruturas responsáveis pela mudança.
O que você diz é claro. Não é fácil estar em uma situação de se sentir traído pelo outro, e ter o desprendimento de simplesmente constatar e mudar, transcendendo a frustação, raiva e revolta. Mesmo racionalmente se sabendo responsável pelo que acontece consigo mesmo.
ResponderExcluirAugusto, comprometimentos (metas e a priori) sempre atrapalham. Abraço! Vera.
ExcluirSeus textos têm sempre me ajudado a compreender melhor as relações.
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