Por que o oprimido anseia por mais opressão?
Por que o oprimido anseia por mais opressão? Essa indagação aparentemente contraditória é esclarecida quando se inclui e trabalha com a realidade estruturada no que se percebe como segurança. Segurança é, em última análise, mesmice. A mesmice conseguida pela repetição, a não mutação de variáveis, a manutenção do existente.
A Terra é redonda, os processos existem, é a dinâmica, é o movimento que tudo configura e define, mas isso atordoa. Surge, assim, a necessidade de marcar, criar padrões, regras e normas, estabelecer referenciais seguros e imutáveis. Desde a família, a religião, as leis, os contratos sociais, o poder econômico que tudo solapa e edifica, até as determinações mesquinhas e autorreferenciadas “do que é meu”, “do que é próprio, do que é impróprio”, “do que faz parte de mim”, tudo conflui para a busca de estabilidade e conservação. Essas colocações, mesmo que só indagações, criam referenciais. Saber até onde se pode ir ou não se pode ir gera deveres. Poder e dever são sinonimizados, possibilidades e regras também. Estar seguro, ter certeza, saber quem é o salvador que vai trazer a manutenção do que se precisa, torna-se fundamental. Surge a luta para obedecer quem lidera, quem ensina, quem organiza, pouco importando se isso implica em opressão, mas muito importando a confiança e crença no que é passado pelo líder, o chefe, o guru. Mais regras, mais obrigações, mais renúncias e assim firmam-se as fileiras de seguidores, adeptos, crentes devotados e lutadores pelo o que o seu guia, guru ou chefe preconiza.
São situações desumanizadoras e é o próprio homem quem propicia a desumanização. Esses processos explicam situações políticas mantidas apesar da destruição de pessoas, como o nazismo por exemplo (em campos de concentração - o holocausto); e o horror cometido por instituições religiosas, como na Inquisição e nas práticas de pedofilia acobertadas pelas instituições; também nas famílias nas quais pais destroem filhos e filhas em função do pátrio poder ou de motivações autoritárias ou usurárias.
Toda vez que a opressão for traduzida como segurança e certeza, conservação da ordem existente, medo do novo, garantia da sobrevivência, ela, a opressão criará o oprimido que anseia por mais opressão para se manter sobrevivendo. Esse paradoxo se realiza por meio da convergência para tudo que é visto como seguro: Deus, família, pátria, governantes.
A proteção, a segurança de seguir um único caminho, da não contradição, da convergência de interesses, do não questionamento, é seguir o que é dito ser o certo, e é, em última análise, submeter-se à opressão que permite sobreviver.
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