Desistência e Manutenção

Geralmente toda desistência implica em manutenção. Desistir da realização dos próprios desejos para manter a vontade do outro é, dentro dos mecanismos sobreviventes, à realização pragmática do bem-estar. Acontece isto desde as situações onde as mulheres suportam apanhar para manter seus parceiros, até os casos onde mulheres e homens desistem de suas motivações e desejos sexuais, para ficar bem com a família, por exemplo.

Quando se avalia, quando se exerce reflexões e considerações parcializadas, não globalizando as relações estruturantes e relacionais, surge divisão criadora de antagonismos e aí se escolhe o que é mais oportuno, convincente e prático de atender. Desiste-se para conseguir tranquilidade, paz.

O exercício contínuo da avaliação gera desistência responsável pela manutenção de incompatibilidades entre o indivíduo e o outro, até a incompatibilidade do indivíduo com ele mesmo.

A desistência resulta de avaliação e cogitação. É o início estruturador do vazio, da depressão, do enquistamento relacional. Desistência, nestes casos, é pragmatismo, consequentemente, coisificação, despersonalização.

É comum se pensar a desistência como libertação (desistir de um casamento insatisfatório, por exemplo, de um relacionamento desgastado, de um emprego que não gosta etc). Desistência como libertação é vista como abrir mão, renunciar. Também é conflito pois decorre de escolha, decorre de cogitar quebrar um compromisso, um acerto. Liberta mas arrebenta, é vivenciada como egoismo, gerando culpa - está comprometida com a divisão pragmática anteriormente estruturada.

O enfrentamento do cotidiano, o questionamento são atitudes onde não cabem avaliação, desistência ou manutenção.




- "Dar a Alma" - Adriano Prosperi

verafelicidade@gmail.com

Comentários

  1. Olá Vera, surpreendente esta idéia de desistência implicando em manutenção e como resultado de avaliação e pragmatismo. Pensando rapidamente a desistência parece remeter a uma idéia de perda, fracasso, mas você tem razão: como resultante de uma atitude pragmática a pessoa decide desistir ou manter a partir do que pensa ser um ganho, uma vantagem; no fundo, uma atitude contaminada, comprometida... adorei o final quando você diz que "desistência como libertação", liberta, mas, pode trazer culpa. Sempre me impressionei com pessoas que vivem situações de opressão, mesmo dentro da família, e quando conseguem sair se sentem culpadas; só o questionamento, nos termos que você descreve, pode explicar. Adorei o artigo.

    Abraço

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    1. Ana, desistência geralmente é manutenção. Na sobrevivência a Navalha de Ockham é uma ferramenta muito útil.

      Abraço

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    2. Com certeza, a maioria chega ao simples forçando a barra, ensaio e erro, erro, erro, erro... ao invês de partir do simples.

      Bom carnaval para você, abraço.

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  2. Muito bom Vera mas difícil uma única definição para cada um dos conceitos.
    A dinâmica da sua ótica esta clara e muito pertinente
    Um beijo
    Suely

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    1. Suely, a definição de conceitos varia em função dos fundamentos teóricos, metodológicos, neste sentido são únicas. Quanto mais dividida, mais colagem teórica, maiores dificuldades conceituais.

      Beijo

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  3. Obrigada pela resposta , importante conhecer a estrutura metodológica realmente caso contrário nao há compressão do texto
    Bj

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    1. Suely, não só de meu texto; não há compreensão de nenhum texto se não se considera a estrutura teórica nos quais se fundamentam.

      Bj

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  4. corrigindo: compreensão
    parabéns Vera excelente texto, mais uma vez
    Suely

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  5. Oi, Vera.
    Realmente, tudo a ver comigo, esse texto. Desisti ou manter, dá no mesmo, o que impera são as avaliações, distorções, o não "enfrentamento do cotidiano".

    Bjs.

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