Cordas e amarras
Esforço é desumanizador para o homem. Máquinas são programadas, homens o
são apenas quando mecanizados em função de ritmos a serem mantidos. O
ser humano ao se relacionar com o outro, com o mundo e consigo mesmo,
enfrenta situações, caindo e levantando consegue, falha; é um processo
que ele inicia e participa, não é um espetáculo, uma situação que ele
avalia, considera, aposta ou torce.
Não aceitar limites leva a romper certos coeficientes reguladores. O
coeficiente de elasticidade no mundo físico e os limites de tolerância
no dia-a-dia relacional nos mostram isto. Para estas pessoas que não
aceitam a realidade, que não se aceitam, estimulos, incentivos permitem
geralmente realização de desejos e metas. Tudo que impulsiona, que
possibilita algo pode ser utilizado e adequado. Por outro lado, sem
muletas, sem amuletos, não chegam onde querem. Possibilidades de
relacionamento, processos, são transformados em necessidades; surgem
funcionalidades valorizadas e na sequência dos relacionamentos suas
estruturas precisam ser escoradas. Atinge-se estabilidade por meio de
escoras, cordas e amarras. Comprometem-se. Instrumentalizam e
transformam possibilidades em necessidades aplacadas e realizadas. Muitas uniões afetivas exibem este processo, por exemplo. A
educação bem planejada para que os filhos vençam na vida são também um
típico exemplo desta estagnação. Conseguir vencer, estar apto, são
propósitos esvaziadores gerados por sonhos e desejos.
Estar comprometido é estar assegurado por um acerto, por uma obrigação
sempre defasada em relação ao que se vive, sempre gerando angustia. Obrigar-se a algo estrutura angustia, medo e pânico; escorar-se,
amarrar-se permite viver, permite transformar os problemas em
justificativas, mas desumaniza, mecaniza e estereotipa o modus vivendi do ser humano. Mesmo pequenas alavancas ou cordas se transformam em impedimentos que podem nos deixar sem oxigênio.
- "Occupy", de David Harvey ...et al. (Carta Maior e Boitempo Editorial)
- "A arte de ter razão", de Arthur Schopenhauer
- "O elogio da loucura", de Erasmo de Rotterdam
verafelicidade@gmail.com
O contexto desse artigo muito bom me lembrou o filme político italiano A Classe Operária Vai ao Paraíso, dos anos 70.
ResponderExcluirOi Augusto, boa lembrança.
ResponderExcluirAbraço