Corda bamba
Toda avaliação do que se tem ou do que se pode conseguir gera insegurança, ansiedade, pessimismo ou otimismo a depender das estruturas relacionais.
Esperança e expectativa se referem a um tempo futuro, um tempo não existente. Voltar-se para além do presente dilui os referenciais das vivências cotidianas, das vivências presentificadas. Esta diluição de vivências torna difícil sustentar anseios e desejos. Sem a vivência presentificada não existe base para sustentar o desejado.
Como transformar o sutil em denso? A fome de sucesso em fotos publicadas, por exemplo? A ambição em expressiva conta bancária? Através de agrupamento, que aumenta, adensa o tenuamente delineado, a meta. Munir-se de credenciais institucionais, adquirir respaldo familiar, empoderar-se para ter sucesso e vitória, permite resultados satisfatórios tanto quanto diluição e circunstancialização da individualidade.
Passar no concurso depois de 10 anos de luta, ter a melhor posição dentro da empresa ao destruir todos os obstáculos - colegas que atrapalhavam, por exemplo - significa realização desesperada, desumanizadora.
Viver sempre em função de objetivos, sempre se preparando para vencer o dia-a-dia é a corda bamba, a ansiedade constante, o medo de cair, o esforço continuado para tecer suas redes de proteção. É viver em função da queda, transformando-se em caixa de ressonância de vitória e fracasso.
- "Um delicado equilíbrio" de Rohinton Mistry
verafelicidade@gmail.com
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