Paixão
Estar reduzido a um desejo, estar detido na percepção do outro como sonho, como passagem para o infinito, para o absoluto da felicidade, do bem-estar, do prazer é o que configura o estar apaixonado, é o que configura a paixão. É um encontro, que por ser foco, se torna polarizante, inclusive de posicionamentos.
Paixão implica em fragmentação ou resulta da unidade, inteireza e motivação?
Ao buscar o que falta, o que completa, o ser humano se encaminha para o abismo, para a descontinuidade de propósitos criadora de posicionamentos. Nesta atmosfera, nesta estrutura, o encontro é resultado de buscas, expectativas e necessidades, é alienador, complementa, mas divide: o simétrico é o oposto, é o duplo, não é o mesmo.
Quando somos surpreendido pelo que não percebíamos, não conhecíamos, o encontro se configura revelação, descoberta, conhecimento; é o encontro sem prévio, sem busca: apodítico. Descortina-se outra configuração, outra realidade, outra vivência: paixão pelo encontrado, pelo descoberto.
Neste fluxo, o desenrolar de arrebatamentos resulta das estruturas relacionais existentes. É o caos, o conflito ou a imensidão do ser-com-o-outro no vórtice que transcende limites, regras e padrões.
Paixão é quebra, fragmentação ou é fusão, integração. Quebrar ou integrar, vai depender das atitudes de manutenção ou de mudança. Enjaular esta descoberta em limitadores aprisionantes relacionais, dá pouco fôlego, vida curta ao êxtase, à paixão. Implodindo estabelecidos funcionais e cenários ramificados, criam-se espaços, atmosferas possibilitadoras de contínuos mananciais possibilitadores de paixão pela paixão. É o cuidado, o zelo, a atitude de deixar fortificar. Neste momento, o outro não é o simétrico, é o contínuo. Disponibilidade caracteriza o estar apaixonado enquanto integração, ao passo que, nas fragmentações provocadas pelo exercício e uso decorrente da percepção do outro como simétrico vital e satisfatório, a posse, a garantia dada por este outro transformado em objeto, também esvazia seu possuidor.
Frequentemente se diz que paixão passa e amor fica. Essa visão dualista, sonega a continuidade. Paixão é o caminho para o amor ou dele resulta. Não há gradação no encontro. A intensidade, a entrega pode ser contínua em estruturas disponíveis ou fugaz, apenas momentos posicionantes, criadores de vícios, frustrações e conflitos, em estruturas comprometidas com deslocamentos dos processos de não aceitação, consequentemente fechadas para o novo, para o relacionamento integrador.
- "Anna Kariênina" de Liev Tolstói
- "Des spirales - De l'équilibre des figures planes - L'arénaire - La quadrature de la parobole" de Archimède
verafelicidade@gmail.com
Vera sou fã de seus artigos. Sempre com assuntos de vanguarda, abordando temas que realmente são um convite à leitura. Parabéns!
ResponderExcluirQue bom que tem gostado, Oliveira, abraços.
ExcluirVera