Generalizações
Generalizações sempre levam a tipificações e classificações; as especificidades se perdem desde que as mesmas só servem para estabelecer padrões que são automaticamente transformados em genéricos definidores. Nesta circularidade, a tautologia se impõe e muitos preconceitos aparecem: “negro é trabalhador, índio é preguiçoso”, “alemães são metódicos”; “brasileiros são alegres”; “latinos são emotivos” etc.
Nas ciências e nas filosofias, generalizações são problematizadas, pensadas e repensadas e ainda assim, propostas; mas é no senso comum e nos discursos políticos que as encontramos mais largamente utilizadas: vítimas e dominadores impõem uma série de genéricos embaçadores da distinção e clareza sobre os acontecimentos. Afirmações como “os pobres são sempre vítimas, os ricos são algozes”, “os judeus, os negros e as mulheres são sempre vítimas em questões conflitivas” e inúmeros outros exemplos, são afirmações débeis e parciais que dificultam o entendimento e as ações ajustadas, gerando incertezas, complexidades e perda das especificidades. O resultado mais evidente destas generalizações é o preconceito.
A vítima de hoje pode ser o algoz de amanhã, tudo vai depender das condições estruturantes dos padrões estabelecidos - a história está cheia destes exemplos demonstrativos da reversibilidade social e política, da alternância entre exploradores e explorados. Militantes e alienados são vítimas, tanto quanto são agentes da manutenção e propalação do que os massacra.
As generalizações criam resumos (certezas) para enfrentar ambiguidades; funcionam como enquadramento necessário à sobrevivência, mas, danoso à globalização do que ocorre. Perceber os acontecimentos sem a priori, sem preconceitos, é a única maneira de vivenciar especificidades, individualidade fenomênica, relacional.
Resumos não necessariamente sintetizam ocorrências. O livre-arbítrio é outro exemplo, é uma generalização do ideal de liberdade manipulado pela Igreja como sinônimo de vontade, como se a vontade fosse desvinculada de qualquer posicionamento e contexto ou realidade social, econômica, psicológica, educacional. Não existe livre-arbítrio, as escolhas dependem dos contextos, dos posicionamentos, dos questionamentos e compromissos. Só somos livres quando temos autonomia decorrente da ultrapassagem dos limites configuradores do nosso quintal/mundo.
Generalizar é tentar domar o que escapa, tanto quanto explicar o que não conhece, o que não percebe.
- “A Filosofia e sua História” de Gérard Lebrun
- "Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus" de John Gray
verafelicidade@gmail.com
Assim, se constrói o esteriótipo e se destrói o indivíduo/individualidade. Grata por seus convites à reflexão, sempre me encantam!! Vc é brilhante!
ResponderExcluirObrigada Regina, abraço, Vera
ExcluirSensacional!!!!
ResponderExcluirObrigada Sylvia!
ExcluirVera
Parabéns pela coerência e objetividade. Posicionamento crítico, aberto e esclarecedor!
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