Sanção
O homem não está contra o mundo, tampouco a favor ou diante do mesmo, ele está no mundo, homem-no-mundo é uma gestalt; o mundo é seu contexto e horizonte relacional. Saindo das dicotomias paradoxais e constrangedoras existe continuidade, o sancionado é o permitido ou não diante da individualidade do outro. Antes das sanções, permissões ou proibições existe o outro como determinação, consentimento ou discordância, através de sua vontade e presença individualizadas. É o relacionamento com o outro que impede ou permite os abusos.
Esperar que se aja apenas dentro do que é sancionado, permitido e aceito socialmente é neutralização de demandas individuais às regras gerais, às regras sociais; é um antagonismo, resultante de dualismos arbitrários (indivíduo X sociedade).
Frequentemente os grupos, famílias, sociedades são orientadas por sanções. A transformação das proibições em leis, a sanção, é o artifício usado para discriminar ou criminalizar/descriminalizar comportamentos; a partir daí, não mais se cuida de legitimidade, autenticidade, mas sim, se aposta em direitos, leis e regras, interpretações e manipulações que podem afiançar, transformar o devido em indevido, o perverso em paradigma, a norma em certeza excluída das relações que ela incorpora.
Sancionar é organizar, refletir aspectos de dados relacionais; quando estas garantias extrapolam o dado relacional e açambarcam totalidades, as sanções se transformam em proibições ou permissões, virando assim violência, preconceito ou destruição do humano, de sua legitimidade enquanto ser no mundo. Fragmentar o outro é vitimar, é fazê-lo existir como objeto, consequentemente, como massa de manobra, receptáculo de desejos, agressões, culpas e medo. O indivíduo autorreferenciado vive na solidão, no isolamento e assim, estando sozinho, começa a fazer o que é permitido ou busca o proibido, o ilícito, para realizar suas necessidades desumanizadas e desumanizadoras.
Conhecemos bem as famílias que decidem os comportamentos de seus membros por meio de sanções garantidas pelas experiências com o bem e o mal; sabemos como geram prepotentes e intimidados, poderosos e acovardados, sempre objetos normatizados pelas regras alienantes e diariamente transformadas em cenário, contextos possibilitadores de trajétorias necessárias e contingentes.
- “Relacionamento Trajetória do Humano” de Vera Felicidade de Almeida Campos
- “A Aventura Semiológica” de Roland Barthes
verafelicidade@gmail.com
Comentários
Postar um comentário