Apreensões
A vivência de apreensão resulta sempre de uma certeza desmentida. Acreditar em determinadas preferências, em determinadas antipatias, e subitamente ver todas as valências e sinais mudados, ver, por exemplo, que o quê se desprezava e desconsiderava começa a ser importante e motivador, gera inquietações, apreensões. Além de certezas transformadas, se transformam também os referenciais de confiança e aceitação. Nada é como antes, tudo é incerto, a desconfiança impera.
Estados de inquietação possibilitam dúvida, ansiedade e também mudança. Depois destas vivências, transformações se impõem, os questionamentos afloram e o indivíduo se descobre diferente do que era. Percebe, por exemplo, que o mundo do novo o atormenta, ou percebe que não pode abrir mão do que modela seu perfil - mesmo que ultrapassado e obsoleto - pois é ele, o perfil, que cobre suas inadequações e incertezas.
As inquietações não equacionadas, não resolvidas, criam ambiguidades relacionais, estruturam dilemas adiados por renúncia. Toda renúncia desfigura e faz perder flexibilidade, perder espontaneidade, tanto quanto gera certezas posicionantes e excludentes de dinâmica, excludentes de motivação que possa gerar apreensões. Neste sentido, podemos dizer que a insatisfação, a frustração, a ansiedade são um somatório resultante de inquietações congeladas, de questionamentos abortados.
Quando as inquietações são equacionadas, quando são resolvidas, horizontes se abrem, sejam eles os anteriores às vivências inquietadoras, agora vivenciados sem dúvidas, sem ambiguidades, sejam outros onde disponibilidade e novas motivações existem.
Viver sem inquietações, sem apreensões é possível quando se aceita a reversibilidade, estruturando flexibilidade, questionando impasses, ultrapassando ou detendo-se em limites. Por outro lado, posicionar-se nos limites gera uma vivência caótica do mundo, onde medo, ansiedade e apreensão são constantes cotidianas.
- “Hamlet ou Amleto?” de Rodrigo Lacerda
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