Impressionabilidade
Organizar os próprios desejos, medir a dificuldade em função de esquemas solucionadores, desorienta quando os mesmos são ameaçadores.
Quando não existe aceitação, quando existe desconsideração e rejeição, as pessoas acreditam que através de poder e status serão aceitas e consideradas. É notória a idéia de riqueza, beleza e poder como solução de todos os males, e a tal ponto que a busca pelo dinheiro neutraliza o medo de ser descoberto em roubos na esfera privada ou pública. É também exemplar a busca da representatividade competitiva e vencedora, através de soluções estéticas padronizadas e embelezadores artificiais, conseguidos pelo esforço diário de malhar ou tomar pílulas, por exemplo, ou submeter-se a próteses. Quando qualquer ameaça impede este “correr atrás” do que pensa ser solução, encontramos impressões acentuadas de falha, fracasso e medo. Nestes momentos, a pessoa se sente desconectada, separada do que a apoia e do que pode construir seu sucesso. Sente-se à mercê das falhas e ameaçada e, assim, surgem as monomanias, impressiona-se facilmente, insinua-se a depressão. Estas impressões, sensação de ameaça, de ruína, de falta de saída, funcionam como anátema, indicando destruição e fracasso, desembocando em estados de depressão, apatia ou de raiva, irritação e ganância.
Posicionar-se em metas e sentir-se delas se afastando, perdendo, gera obstinados, faz perceber tudo como ameaça ou ajuda. Esta divisão cria impossibilidades, pois, nada que aconteça significa caso não esteja dentro dos padrões esperados. Tudo é transformado em algo que pressiona ou que libera.
A alienação decorrente deste processo cria cidadãos impressionáveis e manobráveis, que tudo registram em termos de ameaça ou benefício, uma maioria muda, que escolhe e determina a manutenção do status quo.
“Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto
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