Dilema
Estar diante de dois problemas, necessidades ou caminhos excludentes gera vacilações e dilemas. Desejar, simultaneamente, situações ou afetos que se excluem, que são opostos cria tensões quando não são aceitos, geram irritabilidade, ansiedade e desespero. Frequentemente, os consultórios psicoterápicos são procurados por pessoas que desejam realizar as próprias vontades, mas que constatam como as mesmas destoam das regras familiares e sociais, e tentam conseguir situações onde as aparências sejam mantidas. Inicialmente se consegue estes esconderijos estratégicos, mas de repente tudo fica comprometido: descobertas na traição ao melhor amigo, que também é sócio na empresa, por exemplo, a respeitabilidade e o negócio são atingidos. Abrir mão do relacionamento, impossível. Desistir da sociedade, impensável. O dilema se instala, a ansiedade é constante e após muito desespero, se procura tratamento psicoterápico.
Percebendo que o sintoma - o dilema - é apenas um deslocamento de não aceitação, frustração e desejos não realizados, se inicia o processo de questionamento, de mudança, que também é o da constatação das não aceitações e dificuldades não resolvidas. As não aceitações percebidas, seus deslocamentos e contemporizações geram o dilema. O dilema é uma resultante da divisão existente entre ser e parecer, entre perceber o outro como algo que pode ser utilizado como matéria-prima de sonhos e propósitos.
Nas situações de dilema é pregnante a utilização do outro a transformação do mesmo em objeto para suprir necessidades. Nas vivências de dilema sempre estão inseridos valores que vão permitir avaliação e decisão, entretanto, eles aumentam os dilemas, pois é impossível avaliar, mensurar o que só está ocorrendo enquanto possibilidades, enquanto cogitações. Probabilidades indicam, mas não asseguram, indicam que coisas podem acontecer, mas não garantem seus acontecimentos.
Todas estas cogitações estruturam a vivência do dilema - funcionalmente é assim. Estruturalmente, havendo não aceitação, divisão e autorreferenciamento, sempre existe condição para avaliação, verificação de vantagens, escamoteamentos consequentes do dilema.
Jamais o “ser ou não ser” pode ser entendido como dilema, pois não implica em escolha, mas sim em dúvida. A dúvida não estabelece dilema, desde que a mesma é uma afirmação negada que possibilita pergunta; enquanto o dilema sempre é gerado por avaliação de vantagens, desvantagens, conveniências, inconveniências. Exatamente por este aspecto, o dilema tensiona e despersonaliza, enquanto a dúvida questiona, ampliando os horizontes de possibilidades e impossibilidades.
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