Raiva - Hybris do não ser



Exagerar é transbordar limites e medidas. É o copo de cólera, a gota d’água que inunda, o desespero, a maldade quando posicionada na frustração causadora de ódio e raiva. Querer “dar uma lição”, querer “destruir o que atrapalha” cega diante da intensidade do obstáculo vislumbrado como impedimento.

Ficar raivoso é se apoderar, compactar todos os fragmentos estruturantes de sua alienação, de seu desejo ameaçado. Essa compactação do fragmentado é desesperadora. Não há como unificar o disperso, caso não se use um polarizante. Esse lançar mão de aglutinadores, catalisadores de ordens não intrínsecas e constituintes do vivenciado, é alienante.

Sôfrego, ansioso, de boca aberta para ser alimentado, ser ajudado, o indivíduo se despersonaliza e assim é obrigado a se segurar no polo que o desestabiliza: sua incapacidade. Constatar a falta de condição e a dificuldade é combustível, é propulsor. Dinamizado pela impotência, pela falta de condição na realização de seu desejo, de sua vingança, começa a estruturar a raiva, frustração ampliada pela visão do que pode não ser conseguido ou realizado.

Essa ampliação da omissão (medo), do presente sem marcas, sem trajetória, sem significado, esvazia. Ampliar esse vazio é uma vivência enlouquecedora - não há como ampliar o nada - sem referenciais tudo se esgota em si mesmo, ou seja, no que não é, no que não está, na raiva: atordoamento da queda, da impotência no vórtice do que desmorona, na queda sem parâmetro. É a Hybris do não ser.

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