Artificialidade




Quando alienado e transformado em produto, o ser humano aspira ser compreendido, considerado e aceito. Ser aceito se constitui em uma armadilha, pois não se aceitando e querendo ser aceito, o indivíduo já espera, quer do outro o que ele próprio não consegue: se aceitar. Testes e experiências são feitas para conseguir a validade da aceitação recebida, tanto quanto cada vez é mais artificial o contato estabelecido, pois tudo é realizado por meio de outros parâmetros, outras realidades, surgindo assim, a realização construída em outros referenciais.

Escamotear, seduzir, apresentar credenciais e vantagens são os trunfos utilizados para competições, para o processo de aceitação. Quanto mais aceito, mais artificial, pois foi reduzido ao que funciona como aceitável. O líquido dispersa-se, o construído tem que ser mantido e isso custa empenho, engano e disfarce. Cada vez é mais caro manter o fabricado, o artificial. Cansaço e tensão aparecem. É o que é atualmente chamado de Síndrome de Burnout. De repente não se sabe o que se está fazendo, para que tanto trabalho, para que tanto prazer sexual, para que tanto divertimento? Perguntas esdrúxulas mas cabíveis nos processos artificiais. Tudo é inventado, nada é legítimo, nada é autêntico, desde o corpo construído até as metas programadas (propulsoras), os currículos fabricados e os desejos compatibilizados por estratégias de ganho e sucesso. Nesse esquema começa a surgir o exíguo. Angustia, tensão, medo passam a existir e também cada vez mais aumenta a fé em melhores dias, em futuros tranquilos, desde que se reze e consiga ter seus esforços premiados. Mesmo a fé se transforma em artifício, ferramenta para realização de recuperação pelos esforços ou redefinição de predestinações.

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