Antecipação



Certezas antecipadas deprimem ou geram euforia.

Saber que tudo começa e termina, que os processos existem, é entrar em circuitos infinitos. Quando isso acontece, as vivências se impõem e as certezas são suspensas. É o transpor de limites que tudo muda.

Não necessariamente o que acontece mil vezes se repetirá a milésima primeira vez, como falava Kurt Lewin. Fazer a conta, ou seja, contabilizar é uma maneira de se retirar magicamente do que ocorre. Ou se vivencia, ou se contabiliza, isto é, contabilizar é uma vivência que superpõe e anula a outra vivência. Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Essa superposição nega e resgata. Nega e resgata o quê? O que se pretende? Chegar onde? Os processos voltam a ser antecipados, é a certeza necessária que preenche o vazio do medo e da dúvida. A continuidade disso provoca compulsão: é preciso controlar, é necessário adivinhar para manter a antecipação.

Nosso sistema econômico-social - capitalismo de mercado - oferece sinalizações para realizar o comportamento compulsivo no controle exercido por meio de check-ups, por exemplo, nas pílulas mágicas, na boa quantidade de vitaminas, chás e óleos de salmão que se deve consumir. A compulsão satisfaz necessidades, contorna medos e tudo fica sob controle.

De tanta conta, de tanta contabilização se perde os referenciais do capitalizado e o que se tem guardado significa apenas barreira, peso, coisa que tem que ser cuidada e mantida para não sumir, não ser roubada ou destruída.

Tudo se controla, menos a dialética dos processos. Entender e perceber isso abre perspectivas e transforma a antecipação no aqui e agora que tudo define e explica. Viver é constatar, e assim perceber que percebe o estar no mundo com o outro, consigo mesmo.

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