Transformando resistências
Enfrentar ou cortar o que atrapalha e impede é uma maneira eficiente de abrir perspectivas, tanto quanto de transformar situações. Geralmente o que se erradica e enfrenta em determinados contextos permanece indene em outros. A continuidade do que atrapalha é preservada numa ilha de vazio. Ao longo das jornadas tudo fica renovado, porém sem questionamentos à suas estruturações originantes. É o amor exigido da mãe que se abandonou após longo desentendimento, por exemplo; são também situações de renúncia que se caracterizam pela dificuldade assumida. Quando permanecem resíduos, quando o corte não remove tudo, começam a surgir bloqueios e desvios causados pelos remanescentes. Nesse processo podem ocorrer deslocamentos responsáveis por comprometimentos imprevisíveis: angústia diante do sorriso de uma criança, choro repentino por um canto de pássaro, impossibilidade de criar o próximo cenário da peça na qual se trabalha, incapacidade de criar. A angústia gerada pela constatação das impossibilidades é tão grande, que o indivíduo desloca: sexo, comida, drogas. Novas percepções surgem: é o vício que precisa ser combatido, não pode continuar preso/a ao gigolô, ao chantageador, não é possível não caber mais na roupa, ou ainda, tem que se libertar do vício que inviabiliza o dia a dia. Fechando-se em si mesmo, cada vez é mais difícil o reencontro consigo mesmo, consequentemente, mais difícil a transformação. Nesta incapacidade, impotência e imobilidade, só o processo terapêutico pode recuperar o momento do corte, que é o aglutinante. Desse modo, os processos individualizantes se impõem e a correnteza de vitalidade surge, fazendo recuperar o bem-estar, as motivações e interesses e assim a vida continua, pois já foi reencontrado o que a interrompeu.
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