Às apalpadelas
De esbarrão em esbarrão se consegue descobrir o que evitar e por onde andar, assim como consagrar a experiência como uma chave que tudo abre e ilumina.
Sem apreender as relações que constituem os fenômenos, a totalidade do que aparece se parcializa, dicotomizando o vivenciado. O todo não é a soma de suas partes, ele é o qualitativo que tudo esclarece, daí ser apreendido por meio de insights - apreensões súbitas de suas relações constituintes. As distorções na percepção da totalidade descaracterizam o vivenciado enquanto presente, pois o que se percebe é inserido em outros contextos. A conhecida parábola do elefante e dos homens cegos é emblemática: um grupo de homens cegos, que nunca se depararam com um elefante antes, tentam defini-lo tocando partes de seu enorme corpo. Cada cego sente uma parte do corpo do elefante, mas só uma parte, como um pedaço de uma pata por exemplo, ou a trompa, ou a orelha. Então, cada cego descreve o que percebe, baseando-se em suas experiências localizadas e assim o elefante é percebido de maneiras diversas e sempre parcializadas.
Frequentemente, quando se estabelece função e posição para o outro, se fragmenta o presente e até mesmo o indivíduo com quem se convive. Pensar no pai, por exemplo, como provedor, protetor que tudo resolve é uma maneira de negá-lo enquanto humano; entender a mulher como responsável pela felicidade do lar é isolá-la de convívios mais amplos e, como diz Kant, pensar escola como responsável pelos processos de aprendizagem, de ensino é negar sua função educadora principal: a escola disciplina, desde o horário a atender e os uniformes, até a postura em aula e as atividades.
Nem tudo é o que parece quando nos detemos nos aspectos parcializados da totalidade. Essa constante redução da globalidade explica enganos, surpresas, desespero e impactos. Preconceitos, medos, experiências que garantem controle funcionam como verdadeiros martelos que tudo dicotomizam e esfarelam, permitindo também que pseudo verdades e meias explicações se transformem em bíblias orientadoras do estar-no-mundo.
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