Exílio e esquecimento
Ser exilado da própria terra, do lugar onde se nasceu e vive, seja por guerras, fome ou perseguição político-ideológica deixa marcas, resíduos não superados. A expectativa do não mais sofrer torturas nem abusos, como aconteceu aos presos políticos da ditadura brasileira de 1964; o ter se salvado dos campos de extermínio nazistas por fração de minuto na saída de um trem de prisioneiros, são vivências que marcam e dificultam flexibilidade e disponibilidade. Imaginar que poderia ser aprisionado, ver que milhões de outros foram exterminados ou torturados são referenciais que causam tristeza, desesperança, medo e mágoa.
A construção de novas vidas supõe quase um apagar das anteriores. É uma transformação, às vezes uma violência que se exige. Tem que desaprender, esquecer, deslembrar, como dizia Fernando Pessoa. Parir-se de si mesmo e por si mesmo é um acontecimento que ultrapassa todas as identidades construídas e adquiridas. Mas a terra nova apesar de estranha é também familiar, pois é a única que abriga, que apoia. Vivências de ser acolhido renovam as perspectivas, as possibilidades de começar novamente. Ser acolhido é receber tudo de novo, é a oportunidade que anima e acende possibilidades ao neutralizar desespero e medo. O outro que abriga, que conforta é a delimitação de novos terrenos e novas condições. É a vitória sobre vicissitudes, o porto seguro do náufrago, é o exílio que se transforma em novas finalidades, novos vínculos, desejos e propósitos.
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